Você está em Artigos

A Educação de Jovens e Adultos: Estudo das Motivações Mobilizadoras Determinantes da sua Permanência em Sala de Aula (página 4)



2.2    O ALUNO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)

O conhecimento nos acompanha desde o nascimento, é adquirido com meio, em construção constante. Aperfeiçoar este conhecimento através da educação formal é sem dúvida o anseio de muitos jovens e adultos.
O educando adulto é um trabalhador e como tal tem horários e deveres à cumprir, tem preocupações, vivenciam problemas, preconceitos e muitas vezes a auto-estima está abalada. Manter este aluno-trabalhador frequentando as aulas é um dos grandes desafios na educação de jovens e adultos, e torna-se mais árduo uma vez que o adulto já tem hábitos adquiridos, provocar mudanças interfere em seu modo de vida.

O adulto é por conseguinte um trabalhador trabalhado. Por um lado, só subsiste se efetua trabalho, mas, por outro lado, só pode fazê-lo nas condições oferecidas pela sociedade onde se encontra, que determina as possibilidades e circunstâncias materiais, econômicas, culturais de seu trabalho, ou seja, que neste sentido trabalha sobre ele. (PINTO, 1982, p 80).

Transformá-los em sujeitos participativos requer mais do que ensinar a ler e escrever, é necessário letra-los, é necessário despertar neste aluno-trabalhador o anseio por condições de destaque dentro da sociedade. Trabalhar com ele questões sócio-econômicas, de seu cotidiano. As ações educativas para o adulto que procura a escola necessitam ocorrer  no mais amplo sentido de cidadania, de participação  na sociedade, muitas vezes, preconceituosa com seus analfabetos.

A participação cada vez mais ativa das massas - incluindo grande número de analfabetos - no processo político de uma sociedade expande a consciência do trabalhador e lhe ensina por que e como - ainda que analfabeto - deve caber a ele uma participação mais ativa na vontade geral. (PINTO, 1982, p 80).

Na reflexão de Freire (1988, p 46) "Todos os homens são seres antologicamente iguais, finitos, inacabados, capazes de procederem a críticas autenticamente, "em situações", sofrendo, portanto, os condicionamentos da realidade, mas sendo capazes de transformá-la  porque são seres históricos".
O adulto, quando alfabetizado, poderá perceber o valor de sua formação no momento que usar o conhecimento adquirido em sala de aula para transformar sua realidade e passar a ser sujeito construtor da sua história. 

3 DA ANÁLISE DOS DADOS A COMPREENSÃO DO CONTEXTO EMPÍRICO

3.1 ROTINA DAS AULAS PARA JOVENS E ADULTOS

    A alfabetização traduz muito além do que a inserção do aluno no mundo da escrita insere este educando no contexto social, ao qual sem perceber já estava fazendo parte.
    Muitos dos alunos, frequentadores da Educação de jovens e Adultos, já passaram pelo ambiente escolar. Por algum motivo de ordem econômica, de trabalhos, acessibilidade a escola, e até mesmo por razões familiares, abandonaram a escola.
    Porém, estão dispostos a "recuperar o tempo perdido", o que na maioria das vezes, acaba por contribuir, para uma nova evasão ou desistência. Novamente fatores sociais, familiares e outros contribuem para que isto volte a acontecer.
    No entanto, os alunos que permanecem até o final do curso e buscam a educação letrada, passam por inúmeras dificuldades, são pessoas que na maioria das vezes estão desprovidas de condições financeiras, mulheres que chefiam a família  e enfrentam o trabalho duro para trazer o sustendo à seus filhos, outras que são totalmente dependentes de seus maridos, cada pessoa é única e sua história de vida também. Mudar esta realidade é o que almejam estes alunos, conforme nos foi relatado durante os vários dias em que permanecemos na escola, em observação, estágios e coleta de dados.
    Os dados e demais informações, confrontados com o suporte teórico de: Soares, Freire, dentre outros, que permitirão compreender as ações que mobilizam a permanência deste aluno até o final do curso.
    As aulas iniciam-se pontualmente às 19:00 horas. A professora da sala, sempre acolhe seus alunos com um sorriso e um cumprimento amigável, o que lhe é prontamente retribuído.
    Após todos estarem devidamente acomodados, inicia-se a aula com uma oração, com a participação de todos. Em seguida, a professora pede para que os alunos peguem o caderno correspondente a matéria que será aplicada naquele dia. Todas as matérias são passadas na lousa e copiada pelos alunos, a professora faz questão de ler e explicar detalhadamente, o assunto à eles. As aulas são sempre muito participativas, pois os alunos são interessados e a professora faz questão de atender a todos com muito carinho e dedicação, o que com certeza faz muita diferença na Educação de Jovens e Adultos. Observamos que além de professora, ela é também amiga, conselheira e está sempre preocupada com o bem estar de seus alunos, tanto dentro como fora da escola.
    Após os exercícios serem resolvidos, a professora faz a correção individualmente, na carteira de cada aluno. O intervalo é feito as 20:45 horas, todos os alunos vão para o pátio, e como não poderia ser diferente, aproveitam para conversar, contar histórias, saber dos amigos.
    Tivemos a oportunidade de passar vários dias entre os educandos da Escola Municipal de Educação Básica Sadao Watanabe, e fazermos parte deste círculo de amizade, o que contribuiu imensamente para esta pesquisa. Pois, podemos perceber que muitos alunos além de irem para a escola buscar conhecimento culto, vão em busca de companhia, de uma conversa amigável, de um ombro amigo.
    Na volta do intervalo, são distribuídos livros, revistas, e os alunos se concentram em uma leitura silenciosa e atenta para que depois, possam ler em voz alta um parágrafo.
Este momento da aula é para muitos, gratificante. Depois da leitura, a professora pede novamente  para que eles peguem o caderno, e inicia-se nova matéria.
    Os alunos da Educação de Jovens e Adultos são dispensados as 22:15 horas, por se tratar de pessoas adultas, com obrigações no dia seguinte, após este horário seria quase inviável mantê-los incentivados a prestar atenção a aula. Muitos já estão cansados e várias mães são obrigadas a levar seus filhos para sala de aula, pois não tem com quem deixá-los. E na maioria das vezes, estes filhos que acompanham suas mães, são na verdade, seus maiores incentivadores para a sua permanência em sala de aula.
Anterior   Próxima

Voltar para a primeira página deste artigo

Como referenciar: "A Educação de Jovens e Adultos: Estudo das Motivações Mobilizadoras Determinantes da sua Permanência em Sala de Aula" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 11/05/2024 às 03:27. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/ejaestudo/index.php?pagina=3