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Ensino Fundamental de Nove Anos Desafia a Gestão Escolar: da Sala de Aula e da Escola (página 7)

Ao final de 2005 ocorre implantação de uma nova Política Pública que inclui as crianças de seis anos no Ensino Fundamental, prevendo uma duração de nove anos.  A Escola, por ser uma instituição de caráter privado e ser reconhecida como vanguarda, imediatamente mobilizou a comunidade escolar para a significação de seu projeto.  As professoras que atuavam na pré-escola foram convocadas para participar de um processo de formação e nestes foram utilizados, como referência, os documentos produzidos e distribuídos pelo MEC - Encontros regionais sobre a ampliação do ensino fundamental para 9 anos e Ensino fundamental de nove anos orientações gerais. Neste momento não tínhamos muitas certezas, embora tivéssemos claro que não se tratava de "transferir para as crianças de 6 anos os conteúdos e atividades da tradicional primeira série..."

A possibilidade de a crianças ingressar mais cedo no Ensino Fundamental não significa acelerar o processo de alfabetização, mas sim assegurar que as crianças de seis anos de idade tenham uma proposta que garanta o seu pleno desenvolvimento nos aspectos físico, psicológico, intelectual, social e cognitivo. Tínhamos justamente o compromisso de pensar esta proposta adequada a esta turma, as suas características, potencialidades e necessidades específicas.

Enquanto a proposta era construída, surgiam vários questionamentos tais como: Tenho que alfabetizar a criança de seis anos? Como devo trabalhar? O que devo trabalhar? Ao mesmo tempo em que nos questionávamos nos remetemos a velhas respostas como a perspectiva de Ferreiro (1989), que nos dizia em tempos idos que não precisamos perguntar se alfabetiza-se ou não na pré-escola e sim se estamos permitindo que a crianças aprenda e se alfabetize. Significa dizer também que não é este o momento de se antecipar a iniciação da leitura e da escrita, assumindo novas práticas e conteúdos ligados ao ensino mecânico do ler e escrever e sim organizar o 1º ano de forma que se assuma o letramento como o eixo norteador, onde as crianças se integrem ao mundo letrado tornando-se usuárias da leitura e da escrita num contexto de sociedade.

No momento que surgem tais questões como o que devemos fazer com esta turma de crianças de seis anos vem à tona a conexão que sempre existiu entre a Educação Infantil e os Anos Iniciais, bem como a fragilidade do conceito de infância e o pouco entendimento do papel da Educação Infantil frente à criança. Sabemos que a criança de seis anos independentemente dos níveis de ensino é um sujeito histórico, social, que convive e produz cultura. Neste momento em que tiramos esta criança da educação infantil e a colocamos no ensino fundamental precisamos ter um novo olhar, voltado para este sujeito e que requer reorganização do nosso trabalho, respeitando tempos, espaços, ritmos.

Em Ijuí, a rede municipal agilizava a implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos, pelo menos em algumas escolas de imediato, pois isto representava a inserção de um maior número de alunos matriculados e a garantia de mais verbas, pois com as crianças inseridas no ensino fundamental e, com o FUNDEB ainda vigorando, aluno no ensino fundamental representava dinheiro. Assim novamente o caráter pedagógico que devia ser primeiramente discutido bem como o humanitário foram relegados para segundo plano, primeiro se implantam as turmas, depois se pensa o que fazer com este 1º ano do ensino fundamental de nove anos.

A Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, em contrapartida decide adiar por mais um ano a implantação tentando "livrar-se" da educação infantil, ou melhor, colocá-la a cargo dos municípios e, com certeza, a oposição partidária também teve seu peso neste adiamento.

Antes do início do ano letivo, várias vezes nos reunimos para discutir sobre o primeiro ano e uma decisão tomada pela direção foi transferir as turmas de primeiro ano para o prédio do Ensino Fundamental. O prédio da Educação Infantil e do Ensino Fundamental é separado e a estrutura física e espacial dos mesmos, consequentemente, também se difere. No            prédio do Ensino Fundamental foram reservadas salas no 3º andar, duas salas amplas com banheiro próximo com todo o mobiliário que compunha a sala que se localizava no prédio da Educação Infantil. Os alunos teriam a sua entrada feita por um portão lateral para que os pais pudessem acompanhá-los até as salas, e neste andar, somente dividiríamos espaço com a Biblioteca Infantil. Tal qual não foi a nossa surpresa quando na reunião inicial os pais se opuseram em as crianças freqüentarem o prédio do Ensino Fundamental alegando que seria um espaço muito diferente do qual eles estavam acostumados e que as crianças teriam dificuldades para se adaptar. Enfim, ficou acordado que mudaríamos depois que passassem as férias de julho, porém o espaço de sala de aula (mobiliário das salas, jogos... seria mantido, bem como horários para as crianças brincarem na pracinha no prédio da Educação Infantil a reorganização da pracinha do prédio do Ensino fundamental, entre outros).

Neste momento passamos a considerar o quanto à expectativa dos pais em relação ao 1° ano era grande e este era um desafio posto para nós enquanto escola mostrar para os mesmos que o primeiro ano não se destinava exclusivamente a alfabetização, mesmo sendo este uma possibilidade para qualificar o ensino e a aprendizagem dos conteúdos da alfabetização e do letramento, não podemos priorizar estas aprendizagens como se fossem a única forma de promover o desenvolvimento das crianças dessa faixa etária.

Alfabetizar significa também unir o jogo ao trabalho, fazer com que o aluno questione algo escrito. Deve-se permitir que a criança construa o sentido de cada atividade, valorizando o conhecimento que já traz de sua experiência de vida. Histórias, gibis, rótulos, outdoors, jogos, seus próprios nomes, ou seja, todos os instrumentos são válidos para abrir as portas do mundo da escrita. Alfabetizar é muito mais do que ensinar as letras às crianças. É no processo de alfabetização que as crianças descortinam um universo novo de aprendizado, em uma experiência que marcará sua relação com o conhecimento. O prazer da leitura, a noção de conhecimento em construção, o sentido de individualidade do aprendizado, a valorização do saber, todas essas questões estão presentes no ambiente alfabetizador.

O primeiro semestre transcorreu normalmente. Os pais estavam tranqüilos em relação à proposta do 1º ano. Após a mudança para o prédio do ensino fundamental a nossa rotina alterou-se um pouco, pois um espaço diferenciado sempre provoca isto, porém as crianças adaptaram-se facilmente ao novo ambiente.

Aqui abro um parênteses a uma reflexão em relação ao que significa "espaço Educação Infantil" e "espaço Ensino Fundamental". Tivemos neste ano uma particularidade com estas turmas elas ingressaram no ensino fundamental sem "vestir-se de aluno", pois sabemos que por mais que a escola tenha no mesmo espaço salas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental a expectativa em relação ao Ensino Fundamental é muito diferente. Embora a pré-escola proporcione o ambiente alfabetizador, tenha uma rotina regras, aquele espaço ainda é de brincadeira, de imaginação de liberdade.

Assim que a criança ingressa no Ensino Fundamental já se sente à diferença a escola transforma a criança em aluno, enquadrando-a em seus horários, espaços, materiais, ritos, conteúdos, metodologias, atividades, planejamentos e avaliações. Na grande maioria das vezes, ao ser matriculado no Ensino Fundamental, a criança obriga a deixar a infância na porta da escola e "vestir-se" de aluno. Justamente é isso que o primeiro ano não pode fazer de maneira alguma, que a entrada no 1º ano seja como era a entrada na 1ª série. Agora é sério, agora tem que aprender a ler e escrever.

Mas já estávamos há meio ano com estas crianças e elas eram do primeiro ano do ensino fundamental de nove anos e nós ainda estávamos constantemente refletindo sobre que sujeitos eram esses que ali estavam? O que mudou na vida destas crianças pelo fato de não serem da educação infantil, mas do ensino fundamental? Qual escola se faz necessária para essa idade? Como deve ser a relação ensino e aprendizagem? Ensina-se a ler e a escrever? Que forma de gestão é necessária? A proposta dos nove anos não vem pronta é uma proposta a se construir e esse estava sendo o nosso desafio maior, pensar, pensar e pensar sobre a educação neste novo contexto.

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Como referenciar: "Ensino Fundamental de Nove Anos Desafia a Gestão Escolar: da Sala de Aula e da Escola" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 24/10/2025 às 10:41. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/ensinofundamentalnoveanos1/?pagina=6