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Ensino Fundamental de Nove Anos Desafia a Gestão Escolar: da Sala de Aula e da Escola (página 4)

Para mim, educação nunca esteve ligada à práticas ou propostas que delimitassem o nosso trabalho, temos que ousar, discutir, pesquisar, refletir sobre a nossa prática para poder compreendê-la e poder responder as questões que nos inquietam. A opção por pesquisar sobre a gestão do ensino fundamental de nove anos está fundamentalmente ligada às mudanças legais que acompanhei dentro da Escola de educação infantil, na qual evidenciei uma quebra de paradigma muito maior do que está acontecendo hoje com o ensino fundamental e onde as escolas ainda não conseguiram construir a sua identidade enquanto instituição educativa.

Como protagonista na história da educação, percebo que muito das propostas que não se efetivam se dão em função de uma gestão que não consegue articular as ações e as mudanças dentro dos ambientes educativos. Assim quero poder contribuir com a minha pesquisa, pois estou vivenciando na rotina diária da minha sala de aula a implantação do Ensino Fundamental de Nove anos. Porém não deixo de lado a Educação infantil, pois acredito que este é o momento de se efetivarem propostas onde não se faça uma ruptura entre o Ensino Fundamental e a Educação Infantil.  Temos que ter clareza e pensar neste momento qual é a proposta da Educação Infantil para não cometermos o erro de transferir o que se trabalhava com as crianças de seis anos para as de cinco e assim sucessivamente. É pensar a dimensão que a Educação Infantil tem no nosso contexto de sociedade.

3   EDUCAÇÃO INFANTIL AÍ COMEÇA A MINHA HISTÓRIA PROFISSIONAL.


O início do ano de 2001 é muito significativo para minha vida profissional, pois, embora ainda estivesse em processo de formação acadêmica cursando Pedagogia, é neste ano que dou início a minha vida profissional, ao ser nomeada professora infantil.

Neste período as reflexões em torno da profissional - professora de educação infantil ocupava lugar privilegiado nas escolas e na universidade. Gradativamente a imagem da professora de Educação Infantil - dentro e fora da escola infantil assumia um novo perfil e já estava sendo vista de forma bastante diferente e até, poderia se dizer, aceita com mais tranqüilidade, pois fazia pouco que a educação infantil havia se tornado um dever do Estado e direito da criança, embora não obrigatória. O Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº 8.069/90) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei nº 9394/ 96) vieram definir que as instituições para a criança de 0 a 6 anos sejam subordinadas ao órgão responsável pela educação nos municípios. No que diz respeito à legislação brasileira, muitas foram as conquistas da Educação Infantil, considerando a criança como sujeito de direitos. No entanto, no imaginário de muitos professores, autoridades e familiares, esta ruptura ainda não ocorreu. Nas comunidades escolares muitas pessoas ainda pensam nas Escolas Infantis com lugar de guarda e cuidado com função puramente assistencialista, outros, aí eu me incluo, defendem o seu caráter educativo.

A partir de então, mudanças substanciais ocorreram nas creches e escolas infantis, sendo que sua transferência  da Secretaria da Ação Social, para a Secretaria Municipal de Educação, representou uma quebra de paradigma, tanto na concepção de criança e infância; educação infantil e professor de educação infantil, entre outras. O "atendimento" (agora com um novo entendimento) a estas crianças passa a ser feito por professores conforme o Art 62. da LDB " A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, com formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal". Atendimento este que até então era feito por monitoras das quais não se exigia formação, enfim toda uma nova lógica se deu a partir da regulamentação da educação infantil.

A LDB 9394/96 legitima a educação infantil e a torna a primeira etapa da educação básica atribuindo a ela a função de cuidar e educar crianças de 0 a 6 anos. De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB Nº 1, de 07/04/1999), a função cuidar/educar é indissociável na Educação Infantil pela importância deste período para o desenvolvimento da pessoa em todas as suas dimensões: cognitiva, afetiva, corporal e social, tendo em vista a sua autonomia. Neste período desenvolvem-se, as capacidades da relação com o outro, a identidade, as atitudes de tolerância, o respeito às diversidades. Na vida das crianças, este é um período profícuo para se ter acesso ao conhecimento.

A minha entrada na escola foi um grande desafio, pois me deparei realmente com crianças muito pequenas e a minha função na mesma era a de professora e esse "ser professora" era muito cobrado de nós, principalmente pelas profissionais que já estavam na escola no período anterior quando estas instituições ainda eram "creches" e com objetivos puramente assistencialistas.  A minha formação foi se dando não somente na universidade, mas nos desafios diários, principalmente em conseguir entender essa indissociabilidade entre educar/cuidar que se dá na escola infantil e com crianças tão pequenas, vindo consolidar a premissa que o professor se constitui professor na interação com seus pares.

Com o tempo fui compreendendo que essa indissociabilidade entre educar/cuidar implica em promover uma ação pedagógica respaldada em uma visão integrada acerca do desenvolvimento infantil, respeitando as peculiaridades de cada criança e oportunizando situações de aprendizagem significativas e prazerosas. Assim, é preciso refletir como educar, cuidar e brincar, na Educação Infantil, se constituem mediações necessárias para o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento da criança em relação a si e ao mundo.

Na Escola Infantil existe a necessidade de haver uma ação pedagógica integrada, considerando o cuidar e o educar como sendo indissociáveis, pois esta não pode ser compreendida como uma instância de aprendizagem que só instrui tampouco como um lugar apenas de guarda e proteção. Ao discutir as possibilidades de uma pedagogia para a educação infantil em creches e pré-escola, Rocha (1999) primeiramente destaca as diferentes funções da escola e da educação infantil, que lhes conferem diferentes perspectivas pedagógicas. A primeira, como um espaço para o domínio dos conhecimentos básicos, que tem como sujeito o aluno, como objeto fundamental o ensino, em diversas áreas, desenvolvido através da aula; a educação infantil, por sua vez ?tem como objeto as relações educativas travadas num espaço de convívio coletivo que tem como sujeito a criança de 0 a 6 anos de idade. (Rocha, 1999, p. 61).

A partir destas diferenças, a autora considera o conhecimento e aprendizagem como partes integrantes da Educação Infantil, no entanto, alerta que aos conhecimentos adquiridos na educação das crianças pequenas associam-se os processos de constituição destas crianças, tais como: "a expressão, o afeto, a sexualidade, a socialização, o brincar, a linguagem, o movimento, a fantasia, o imaginário, ... as suas cem linguagens" (Rocha, 1999, p. 62).

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Como referenciar: "Ensino Fundamental de Nove Anos Desafia a Gestão Escolar: da Sala de Aula e da Escola" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 14/05/2024 às 16:21. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/ensinofundamentalnoveanos1/index.php?pagina=3