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Causas do Fracasso na Alfabetização (página 3)

Segundo a antropóloga, os professores:

Podem até estar cientes do baixo nível do ensino no país, mas costumam atribuir o fiasco a fatores externos, como o fato do governo não lhes prover a formação necessária e de eles ganharem pouco. É um cenário preocupante. Os professores se eximem da culpa pelo mau ensino ? e, conseqüentemente, da responsabilidade. (DURHAM, 2008, p. 20).

Os professores alfabetizadores necessitam de formação especial, mais sólida e aprimorada, devido à importância de seu trabalho. Na sua formação são estudados alguns métodos de alfabetização, uns não são bem entendidos e outros distorcidos.

Esses métodos são repetidos sem que o professor saiba como fazê-los funcionar na prática de sala de aula. É fundamental que os cursos de graduação mostrem na prática como funcionam as teorias que eles ensinam. Encher os futuros professores de teoria não assegura a qualidade da formação. Uma bela teoria que não funciona na prática acaba contribuindo para o aumento do fracasso dos alunos.

Outro aspecto que influencia no aprendizado são as condições de vida das famílias desses alunos. Para Charmeux (Apud Freitas, 1995), "a maneira como 'a coisa escrita' é recebida em casa determina em grande parte o modo pelo qual a criança vai recebê-la no contexto familiar vai determinar a impressão que a criança vai ter sobre ela". Ou seja, crianças que vivem em um ambiente no qual a família utiliza e valoriza a leitura e a escrita, tem mais facilidade para aprender. Já as que não têm esse ambiente podem apresentar maior dificuldade.

O hábito da leitura na família tem influência notável no desenvolvimento da criança. O ambiente letrado é estimulador e favorável para o aprendizado da leitura e da escrita. A criança que no seu dia a dia, no seu convívio familiar está rodeada de pessoas que têm o hábito de ler será levada facilmente a adquirir esse hábito e virá a ser um leitor ativo.

Em várias famílias de classe mais baixa, escrever pode limitar-se somente a assinar o próprio nome ou, no máximo, a reproduzir listas de palavras e recados curtos. Para quem convive com esse mundo, escrever como a escola pretende pode ser esquisito, indesejável, desnecessário. Entretanto, os que convivem num meio social onde se leem jornais, livros, revistas, no qual os adultos escrevem com frequência e as crianças, desde pequenas, possuem seu estojo repleto de lápis, canetas, borrachas, etc. consideram muito natural o que a escola realiza, porque, na verdade, significa um prolongamento do que já realizavam e esperavam que a escola realizasse. Conseqüentemente, alfabetizar classes sociais que vêem a escrita como uma mera garantia de sobreviver na sociedade é diferente de alfabetizar classes sociais que consideram a escrita, além de essencial, uma forma de manifestação individual de arte, de passatempo. (CAGLARI, 2004).

Essas crianças de classes menos favorecidas enfrentam um quadro de alimentação deficiente, de ausência de atenção, carinho, estímulos em casa, local adequado para estudar, de informações e contatos com a língua escrita, e muitas vezes essas crianças precisam trabalhar para aumentar a renda familiar, ou tomar conta dos irmãos menores para que os pais trabalhem.(BAETA, 1992). Com isso, acabam não tendo tempo suficiente para se dedicar aos estudos. Entretanto, conhecer essa verdade deve servir para a escola adaptar as práticas pedagógicas à sua clientela, ao invés de "... usar este conhecimento como álibi para eximir a escola de seu papel na produção do fracasso escolar". (IBID, 1992, p.20). É necessário que a escola utilize esse conhecimento e modifique suas práticas, e busque a causa do insucesso desses alunos nela mesma, em vez de justificar o baixo rendimento como uma causa orgânica inerente a eles.

Outro fator significativo no fracasso das crianças das classes menos favorecidas é a linguagem privilegiada pela escola, que é diferente daquela utiliza por eles no seu contexto social. De acordo com Magda Soares:

... a linguagem é também o fator de maior relevância nas explicações do fracasso escolar das camadas populares. É o uso da língua na escola que evidencia mais claramente as diferenças entre grupos sociais e que gera discriminações e fracasso: o uso, pelos alunos provenientes das camadas populares, de variantes lingüísticas social e escolarmente estigmatizadas provoca preconceitos lingüísticos e leva a dificuldades de aprendizagem, já que a escola usa e quer ver usada a variante-padrão socialmente prestigiada. (SOARES, 1991, p.17).


Sendo assim, a escola necessita levar em consideração o conhecimento que a criança, de classe menos favorecida ou não, já traz sobre a linguagem, que é um produto cultural. (IBID,1991, p.16).  Por isso, a escola não deve afirmar que essas crianças não sabem falar corretamente, e que como conseqüência não aprenderão a ler. Elas aprenderam a falar dentro de seu contexto familiar e social, que é diferente do dialeto-padrão utilizado e valorizado pela escola.

De acordo com os fatos mencionados, percebe-se que o insucesso na alfabetização ocorre, muitas vezes, por causa do despreparo das escolas e dos professores. Alguns dos professores até passaram, pela graduação, mas isso não garante a qualidade do ensino já que alguns dos cursos de Pedagogia não estão formando profissionais com competências essenciais para alfabetizar.

Para mudar esse quadro é necessário investir na formação inicial e continuada do professor, para desenvolver as competências inerentes à prática alfabetizadora.

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Como referenciar: "Causas do Fracasso na Alfabetização" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 26/04/2024 às 03:04. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/fracassoalfabetizacao/?pagina=2