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Intervalo para Hospitalidade: Uma Leitura Pedagógica (página 5)

A educação para a cidadania global agregaria competências amplas para as pessoas e, conforme Moraes (1997) criando espaços para o consenso:

Educar para a cidadania global requer a compreensão da multiculturalidade, o reconhecimento da interdependência com o meio ambiente e a criação de espaço para o consenso entre os diferentes segmentos da sociedade. Requer que o individuo compreenda que é parte de um todo, um microcosmo dentro de um macrocosmo, parte integrante de uma comunidade, de uma sociedade, de uma nação ou de um planeta.

O exame das relações recíprocas que se estabelecem entre os seres humanos e seu mutante entorno social, cultural e tecnológico, visando a atividade cognitiva, no dizer de Odonne (2007), talvez fosse a concepção que animou a idéia da epistemologia social (EGAN; SHERA, 1952). 

Uma nova epistemologia social faz-se necessária para assegurar o aprender a conviver como um dos pilares da educação atribuído e caracterizado pelo Relatório da Unesco (1999). Uma epistemologia social, em especial, referendada nos paradigmas da hospitalidade, da inclusão social, da transpessoalidade, da multirreferencialidade, da diversidade, do pluriculturalismo, da civilidade, do humanismo, da solidariedade social, da responsabilidade social.

A comunicação tem um papel importante nas interfaces decorrentes da convivência humana. A comunicação possibilita a mediação das expressões dos sentimentos, e as exteriorizações dos atos de acolher, de nutrir, de entreter, atos decorrentes da vontade política dos sujeitos, dentro do processo da hospitalidade na convivência humana. A comunicação é que nos dá a dimensão de humanos, conforme análise de Maturana e Rezepka (2000, p.63):

Afirmamos que nós, os seres humanos, existimos na linguagem, ou melhor, nas conversações, e que o humano começou quando uma linhagem iniciou na conservação de um viver em conversações como a maneira de viver que o definiu.

Independentemente das circunstancias, no dizer de Maturana e Rezepka (p.80), o que nos torna humanos:

O que nos torna humanos é nosso viver como seres de linguagem, cooperadores e amorosos, com consciência de si e consciência social, no respeito por si mesmos e pelo outro.

A comunicação, na sua expressão afetiva, tem importância singular nas relações sociais dentro dos parâmetros da confiança e do respeito mutuo. Maturana e Rezepka (2000, p.60) preconizam a importância da expressão do amor nas relações sociais:

Em nossa opinião, a emoção que constitui a relação social é o amor, a aceitação do outro como um legitimo outro em coexistência com alguém.

Covey (1989, p. 206) utiliza a metáfora da conta bancária emocional caracterizando a quantidade de confiança que se acumula em um relacionamento. De acordo com a metáfora, toda vez que se utiliza de expedientes, tais como, cortesia, honestidade, compromissos, estaríamos operando créditos, em forma de depósitos, que se constituem em reservas emocionais capazes de assegurar perspectivas emocionais para os próximos relacionamentos. Porém, se tiver o costume de demonstrar, por exemplo, falta de cortesia, desrespeito, desconsideração, desatenção, grosseria, arbitrariedade, trair a confiança, seriam operações de descrédito, espécimes de retiradas da denominada conta bancária emocional, comprometendo a confiabilidade com reflexos nas relações humanas.

Está em jogo, na aculturação do processo da hospitalidade, além de vivenciar a compreensão humana, práticas emocionais creditícias agregadoras de valor nas relações humanas. Por sua vez, há o risco pedagógico de algumas práticas emocionais desagregadoras, tais como, a descortesia, o desrespeito, a desconsideração, a arbitrariedade, a falta de confiança nas relações humanas. Covey ressalta a importância de pequenas praticas emocionais creditícias: (1) compreender o indivíduo; (2) prestar atenção para as pequenas coisas; (3) honrar os compromissos; (4) esclarecer as expectativas; (5) demonstrar integridade pessoal; (6) pedir desculpas sinceras.    

Cabe à educação, na perspectiva da denominada Educação do Futuro (MORIN, 2000), contribuir para: (1) ensinar a condição humana; (2) ensinar a identidade terrena; (3) ensinar a compreensão; (4) ensinar a cidadania terrestre. Essas quatro contribuições possibilitam ao paradigma da hospitalidade marcar presença na educação do futuro, com reflexos na convivência social.

Conclusões preliminares

Conclui-se que a educação para a hospitalidade é um processo imprescindível para o aprender a conviver, e, por sua vez, o aprender a conviver é um dos pilares da educação, compondo a matriz dos aprenderes desejáveis para o século XXI e  preconizados no Relatório da Unesco (DELORS, 1999) quando afirma que a educação tem uma tarefa universal de ajudar a compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um se compreenda melhor a si mesmo.

O processo da hospitalidade compreende uma gama de variáveis a serem consideradas, sejam variáveis de entrada do processo, sejam variáveis do processamento propriamente dito, sejam variáveis intervenientes, sejam variáveis de saída do processo.

A convivência humana requer uma nova epistemologia social capaz de redimensionar a qualidade das relações humanas contribuindo para o fortalecimento do tecido social.

A hospitalidade se apresenta como um paradigma capaz de revolucionar as culturas sociais, as culturas organizacionais e as culturas educacionais.

A pedagogia tem um papel a cumprir na construção de uma nova matriz de convivência social, abrindo espaço para novos paradigmas sociais que vão desde a inclusão social até a hospitalidade, passando pelos paradigmas da transpessoalidade, da multirreferencialidade, da diversidade, do pluriculturalismo, da civilidade, do humanismo, da solidariedade social, da responsabilidade social.

Há um vazio que somente a educação, através das diferentes e apropriadas pedagogias (pedagogia da epistemologia social, pedagogia da sensibilização social, pedagogia da conscientização social), poderá ocupar neste processo de construção da cultura da hospitalidade e na formação da atitude hospitaleira.

A sala de aula, por sua vez, constitui-se numa espécie de laboratório pedagógico capaz de ampliar os espaços emocionais, os espaços transpessoais e os espaços multirreferenciais, concorrendo para a formação da atitude hospitaleira dos seus protagonistas na medida em que se cultuam os novos paradigmas sociais preconizados.

A hospitalidade aporta como um paradigma a pedir espaço nas diferentes culturas, seja na cultura pessoal com seus matizes e interfaces relacionais, seja na cultura das organizações e dos diferentes povos.

Referências bibliográficas:

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COVEY, Stephen. Os 7 Hábitos das Pessoas Muito Eficazes. 17 ed. SP: Editora Best Seller, 1989.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 2 ed. SP: Cortez, 1999.
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Como referenciar: "Intervalo para Hospitalidade: Uma Leitura Pedagógica" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 21/10/2025 às 14:05. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/hospitalidade/?pagina=4