Processos Interativos na EaD: Mediação Pedagógica Através das TICs (página 3)

Desta forma,

o homem é concebido como sujeito ativo que cria o meio, a realidade (age na natureza) e como produto deste meio (a natureza age sobre os homens). Nesse processo dialético, o sujeito do conhecimento não tem um comportamento contemplativo diante da realidade. Pelo contrário, é constantemente estimulado pelo mundo externo e como conseqüência internaliza (de modo ativo), o conhecimento (conceitos, valores, significados) construído pelos homens ao longo da história. (REGO, 2000, p. 101).

Ao considerar o caráter ativo do sujeito, Vygotsky constatou ainda que o conhecimento e o comportamento humano seriam socialmente transmitidos. O fator responsável por esta transmissão seria a mediação. Este termo é de fundamental importância à educação escolar. A mediação se refere "à função que os sistemas de signos e sinais têm na comunicação entre os homens, bem como na construção e internalização da cultura." (COUTINHO; MOREIRA, 2000, p. 68).

Para ocorrer a mediação, é necessário um agente mediador, que tenha adquirido previamente o saber mediado. Tal agente é denominado sujeito mais experiente, por conhecer algo que o aprendiz ainda não conhece. A quem o conhecimento é mediado, caberia processar e assimilar as novas informações pelo processo de internalização, conforme Rego (2008).

Neste aspecto, o professor deveria mediar o conhecimento ao aluno, a fim de este construir o próprio saber. Tal função do mestre permitiria o compartilhamento da responsabilidade pelo ato de aprender entre dois sujeitos ativos: o docente e o discente. Estes seriam, acima de tudo, os perfis de mestre e aprendiz esperados na atualidade.

A fim de justificar a importância do ensino, a teoria histórico-cultural atribui à instituição escolar, assim como às interações entre o indivíduo e o seu grupo social, a função de desenvolver as funções psicológicas superiores (FPS), que consistiria

no modo de funcionamento psicológico tipicamente humano, [...] capacidade de planejamento, memória voluntária, imaginação etc. Esses processos mentais [...] referem-se a mecanismos intencionais, ações conscientemente controladas, processos voluntários que dão ao indivíduo a possibilidade de independência [...] estes processos não são inatos, eles se originam nas relações entre indivíduos humanos [...]. (REGO, 2008, p. 39).

Em relação ao processo de ensino-aprendizagem, a teoria de Vygotsky considera que o discente não aprende pela simples assimilação de conhecimentos. Segundo esta corrente da Psicologia, o aluno internalizaria os conteúdos através do embate entre os conhecimentos prévios ou cotidianos por ele possuídos e as novas informações apresentadas pela escola. Estas, devido a seu caráter de saber sistematizado e empiricamente validado, são definidas como conceitos científicos, na concepção de Rego (2008).

Outro conceito de suma importância é a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). A partir dele, concebe-se a criança como possuidora de dois níveis de desenvolvimento, o real e o potencial. A ZDP, neste sentido, poderia ser definida como:

A distância entre aquilo que ela (a criança) é capaz de fazer de forma autônoma (nível de desenvolvimento real) e aquilo que ela realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social (nível de desenvolvimento potencial) [...]. (Ibid., p. 73).

É a partir da distância entre aqueles dois tipos de desenvolvimento que o professor deveria intervir através da mediação. O ensino eficaz, neste aspecto, seria "aquele que se adianta ao desenvolvimento, ou seja, que se dirige às funções psicológicas que estão em vias de se completarem." (REGO, 2008, p. 107).

Seria possível afirmar, ainda, o seguinte:

Para Vygotsky é justamente na ZDP que [...], graças à ajuda de outras pessoas, pode desencadear-se o processo de modificação de esquemas de conhecimentos que se tem, construindo-se novos saberes estabelecidos pela aprendizagem escolar. (ANTUNES, 2008, p. 28).

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