Você está em Artigos

Leitura no Primeiro Ano das Séries Iniciais: uma construção de significados (página 7)

Assim, a mudança na estrutura familiar e social leva a família a buscar as escolas para complementação e continuidade educacional de seus filhos. A Educação, dada em instituições de ensino, torna-se a primeira experiência educativa extra-familiar.
 A esse respeito diz Lopez (2002, p.23):

A escola se apresenta como um único lugar em que é possível a convivência com um grupo de crianças de certa idade. É, portanto, o lugar oportuno para desenvolver os hábitos de socialização que a vida em comunidade requer. A escola dá as bases que tornam possível o acesso a um saber mais elaborado, e se tratando da primeira educação, pode se dizer que a perca da oportunidade educacional dos primeiros anos  é irrecuperável, pois nesse período se adquirem traços que marcam os aprendizados e a vida posterior.


Entretanto, sabe-se que os espaços destinados para o desenvolvimento dessa educação, nem sempre se configuraram como o mais ideal, tendo em vista as precárias condições de tais instituições em determinados locais e épocas. Estas condições na maioria das vezes, resultando da falta de interesse, se levando em conta o público a que eram destinados: os menores desfavorecidos, que por sua vez não cobravam melhorias, aceitando passivamente tudo que a estes eram oferecido.

A  escola surge aí como um recurso que estigmatiza a população de baixa renda. Não tendo o que comer em casa, nem a companhia necessária para o cuidado com a criança, a mãe se via obrigada a procurar esse espaço de cuidado para deixar seu filho junto a profissionais ?preparados? para tal função. Função essa que era exercida no interior dessas escolas em todo o Brasil e que foi durante muito tempo objetivo único da mesma, além de mal exercida, tendo em vista as precariedades das instituições, estas deixando a educação muitas vezes a desejar em termos teóricos e práticos.

Diante dessa afirmação podemos perceber o despreparo que até então se encontravam tais instituições. Estas por sua vez além de serem mal administradas, ainda trabalhavam desconectadas das formas de organização familiar, na qual a criança encontrava-se inserida.  Dessa forma ao ingressarem na escola, este ambiente contradizia com o até então eram freqüentado pelas crianças, no caso a sua casa.

Sobre o ingresso da criança nestas instituições, diz Nunes, apud Oliveira (2001, p. 105):


Ao ingressar na pré-escola a criança se depara com um espaço que possui uma composição própria, com objetos específicos e uma estrutura social diversa da familiar. Isto quer dizer que ela vai ter que aprender a lidar com esse conjunto de novos elementos, assumindo novas condutas de acordo com as exigências desse novo contexto.


Para que a criança se adapte a essa nova realidade e tenha sucesso nesse processo, se faz necessário acompanhamento por parte tanto da instituição quanto da família. Na escola, a relação entre o educador e a criança é fator determinante para o desenvolvimento do processo educativo da criança, em particular do entendimento a respeito da leitura e da escrita, base para aprendizados posteriores. A presença dos pais nessa fase inicial de escolarização também se faz fundamental para o bom andamento do seu processo educacional.

Sobre essa questão, essa fase de escolarização, Sá apud Nova Escola (2006, p.12) escreve que:


É importante que um dos pais ou responsável acompanhe os primeiros dias na escola: além de mostrar ao educador aspectos relevantes da rotina familiar, ele vai transmitir acriança segurança até que ela consiga ficar sozinha. Para a adaptação ser completa, é fundamental também o educador compartilhar com a família as experiências inéditas que os pequenos vivenciam na escola.


Outro fator decisivo na formação educacional se dá pelos estímulos adquiridos, tal enfoca Freire e Vigotsky em pensamentos anteriores desse texto. Assim, quando a família e a sociedade se dispõem a contribuir no estimulo a leitura e a escrita, haverá um maior aprendizado.

Diante dessa afirmação, percebe-se que o processo de escolarização atribuído ao elo de ligação entre escola, família e comunidade aparece visto como uma parceria necessária. E quanto à adaptação, esta é fundamental para que a criança sinta-se atraída pela escola, uma vez antes de ir a instituições específicas de educação infantil, a criança tem um relacionamento restrito a sua casa, com seus pais ou responsáveis, e a alguns familiares. Ao ter que vivenciar essa nova fase vai precisar de um apoio que lhe proporcione o engajamento com às  novas relações que vão surgir.

É preciso, pois, um esforço coletivo entre a família e a comunidade escolar no intuito de minimizar ao máximo os impactos desse momento. Esforço este que será também determinante para uma boa interação com outras crianças, para a construção da sua identidade, de sua autonomia.

Sá (2006), diz a esse respeito que a construção da identidade é gradativa e se dá por meio das interações sociais. As crianças nessa fase tanto imitam o outro, quanto se diferenciam destes. Para ajudar as crianças nesse processo, o educador pode criar situações nas quais eles se comuniquem e expressem desejos, desagrados, necessidades, preferências e vontades. De acordo com Sá( 2006) as brincadeiras em frente do espelho ajudam a criança a reconhecer suas características físicas.

Atentar para essas questões nas escolas significa assumir a especificidade do trabalho na educação infantil, que se dá voltado para a construção de conhecimentos, de descobertas e desenvolvimento de capacidades. Para isso se faz necessário que seja revista concepções até então contraditórias à criança, as relações existentes, bem como a responsabilidade conjunta entre família, sociedade e poder público.


REFERÊNCIAS

BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologias / Ana Mercês Bahia Bock, Odair Furtado, Maria de Lourdes Trassi Teixeira. -13. Ed. Reform. E ampl. - São Paulo: Saraiva 2002

BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Vols. I, II, III. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CARDOSO, Clodoaldo Meneguello.  A canção da Inteireza: uma visão holística da educação. São Paulo: Summus, 1995.

FRAGO, Antonio Vinão. Alfabetização na sociedade e na história: palavras e textos. Vozes. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. 

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: Em três artigos que se completam São Paulo: Cortez Editora, 1986.

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. 

GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. 4 edição. São Paulo: Ática, 1991

KLEIMAN, Ângela B. Oficina de Leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, 1993.

KRAMER,  Sônia. A infância e sua singularidade. In: Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Departamento de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Ensino Fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2000.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o  real,  o  possível  e  o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.

MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Escrita e Leitura: natureza e desenvolvimento do processo. In: Leitura, produção de textos e a escola: reflexões sobre o processo de letramento. Campinas, São Paulo, 2008.

NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos: uma jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. 2a Ed. São Paulo:  Érica, 2001.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação infantil: fundamentos e métodos. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002.

ROMAN,  Eurilda Dias; STEYER. Vivian. A criança de 0 a 6 anos e a educação infantil: um retrato multifacetado. Canoas: Ed. Ulbra, 2001.

SÁ, Jaciara de. É tudo novidade. (IN) Nova Escola. Edição Especial, n. 9. São Paulo: Abril. 2006, p. 12-13.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

Clique aqui para avaliar este artigo

Voltar para seção de artigos

Anterior  

Voltar para a primeira página deste artigo

Como referenciar: "Leitura no Primeiro Ano das Séries Iniciais: uma construção de significados" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 04/05/2024 às 22:25. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/leitura/index.php?pagina=6