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O Ensino da Matemática nas Classes de Alfabetização: Como é? Como deveria ser? (página 3)

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (LDB, 1996, Art. 29).

Novas modalidades de formação para educadores que queiram atuar nesta etapa de ensino e nas demais são regulamentadas na referida Lei e oferecidas nas universidades ou em institutos superiores de educação. Propostas pedagógicas para o ensino infantil são pensadas e articuladas. O Ministério da Educação (MEC) formula um Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), e o Conselho Nacional de Educação define as Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil (DNEI).

Os desafios do mundo contemporâneo são grandes, por isso, não se pode perder o norte, deve-se ampliar as construções educativas e sociais e proporcionar um ensino de qualidade às nossas crianças.


3. A IMPORTÂNCIA DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Se ouço, esqueço; se olho, recordo; se faço, compreendo. CONFÚCIO. Em matemática a criança deve partir do fazer para o textualizar. Sobretudo na educação infantil o fazer é instrumento necessário no progresso da criança, pois quando ela faz, constrói, se sente realizada, enriquecida, sai de um estado desafiador para um engrandecedor. Ela passa a olhar sua criação com cuidado e atenção, estando pronta pra falar sobre ela e dizer como chegou ao fim. Ela se supera. Fortalece sua autonomia.

A pesquisadora argentina, Emília Ferreiro, que formulou sua teoria sobre a aprendizagem da escrita, é clara quando fala da aquisição social da língua, da escrita e de noções matemáticas. Está explícita a abordagem sócio-interacionista de Vygotsky. Como nos diz Ferreiro: As crianças iniciam o seu aprendizado de noções matemáticas antes da escola [...] Iniciam o aprendizado do uso social dos números e das atividades sociais relacionadas aos atos de comprar e vender (FERREIRO, 2001, p. 98).

No momento em que ela (a criança) possui um brinquedo e com ele interage, as relações sociais e o uso dos números está presente. Quando falta um brinquedo ele procura, vai atrás porque sabe que sua coleção está incompleta, algo estar faltando, houve perda; e por ela está no estágio de egocentrismo, não suporta o sentimento da perda. Um ponto que na educação infantil deve ser trabalhado incessantemente: a perda está para todos nós, assim como o espaço está para a Física. As pessoas sempre terão de perder algo, e trabalhar com os pequenos esse sentimento pode amenizar problemas futuros fortalecendo sua auto-estima e sua capacidade de resistência. Quando desenvolver atividades nas quais haja subtração o educador dos pequenos deve ter em mente que o deixar para o outro está nas entrelinhas da atividade realizada. Estimular a verbalização do aluno, deixar que ele exponha sua opinião sobre esse sentimento é importante para prosseguir na práxis pedagógica.

DANTE (1996) nos lembra que a Matemática é, em especial, um modo de pensar. Por isso, faz-se necessário trabalhar o quanto antes esse pensar com as crianças, para um fortalecimento mais eficaz nos alicerces da aprendizagem dessa disciplina. É na primeira etapa da educação básica o momento para alicerçar a construção dos conceitos matemáticos. Então, ele defende duas razões para o trabalho da Matemática na Educação Infantil:

Ela desenvolve na criança o raciocínio lógico, a sua capacidade para pensar logicamente e resolver situações-problema, estimulando sua criatividade.
É útil para a vida diária da criança, pois, mesmo inconscientemente, ela está em contato permanente com formas, grandezas, números, medidas, contagens etc. (DANTE, 1996, p. 18)

Dois pontos principais podem ser expostos: estimular o raciocínio lógico e ser útil para a vida diária. Quando conseguimos pensar logicamente sobre qualquer assunto, estando em qualquer situação a probabilidade de acertos e resoluções aumentam. As crianças não conseguem pensar logicamente se não forem aguçadas para tal prática. Se antes da sua entrada na escola a criança já for incentivada ao ato de pensar, os adultos já estarão desenvolvendo um dos objetivos gerais da educação infantil. Ao ingressarem nesse mundo sistemático do ensino elas poderão ampliar seu pensar. Observar suas atitudes, conhecer outras, se relacionar... O ensino na escola deve proporcionar meios para o discente intensificar seu pensamento. "A criança que aprende pensando adquire um instrumental importante que lhe servirá por toda a vida" (CARRAHER, 2000, p. 32).

Muitas pessoas dizem que há conceitos matemáticos que não são úteis para nossa vida. Acreditam e afirmam que há desconexão entre o cotidiano e boa parte da Matemática. Certamente não houve atenção ou um mínimo de pensamento lógico por parte de professores e de alunos para identificar a relação intransponível entre Matemática e dia-a-dia, pois ela surgiu da necessidade que um povo tinha e se ampliou e continua ampliando-se devido sua utilidade para a vida diária. Principalmente os conceitos mais simples, que são os mais complexos de se explicar, surgem naturalmente de uma dificuldade individual ou coletiva.

Várias noções topológicas como interior-exterior, longe-perto, inteiro-quebrado também são pré-históricas e as crianças trabalham com elas. Aliás, certos conceitos topológicos ou de conjuntos são tão simples que o homem sempre fez Matemática pressupondo-os tacitamente, sem perceber... (NETO, 2001, p. 21)

A criança progride na construção do conhecimento lógico-matemático pela coordenação das relações simples que anteriormente ela criou entre os objetos. (KAMII, 2003, p.15)

São através de conceitos simples que as crianças irão buscar o complexo. Seja na elaboração da idéia de número; da classificação; nas noções de grandeza, tempo, direção e sentido, posição, capacidade e massa; no trabalho com a simbolização, seqüências e correspondências; explorando a idéia das operações matemática, a manipulação geométrica e a construção e interpretação estatística de fatos e situações. Iniciando a compreensão, partindo sempre de uma situação problema, para maiores progressos futuros no desenvolvimento pleno do ser humano.

3.1. A Linguagem e a Matemática

Falar é algo tão simples que nos surpreendemos quando nos deparamos com alguém com problemas fonoaudiólogos. Quando não conseguem pronunciar os fonemas. Quando a língua, órgão da fala, encontra barreiras para produzir os sons das palavras.

Desde que nascemos emitimos sons; com nosso desenvolvimento passamos a reproduzir todo e qualquer som que ouvimos, para depois aprendermos a textualizá-los.

Seja qual for a nacionalidade, isso é claramente visível. O oral é mecanismo facilitador para a perpetuação de qualquer idioma, para sua evolução e mudanças necessárias. Portanto a Língua Materna, seguindo a linha de MACHADO (2001), é a representação das idéias de um povo; é um sistema de signos que expressam a realidade significativa de uma nação.

Assim como a Língua Materna, a Matemática está impregnada no desenvolvimento das pessoas. Tanto esta como aquela, estão mutuamente interligadas. Pois matematicamente, as pessoas aprendem a analisar, levantar hipóteses, sugerir, pensar logicamente, encontrar soluções etc, na sua vida diária, e utilizam símbolos da língua para expressar a realidade, a qual também é apresentada pela língua materna.

... a Língua não se restringe a um código, embora não prescinda de um, assim como a Matemática não se restringe a uma linguagem formal, ainda que não possa prescindir e uma... (MACHADO, 2001, p. 113-114)

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Como referenciar: "O Ensino da Matemática nas Classes de Alfabetização: Como é? Como deveria ser?" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 03/05/2024 às 07:33. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/matematicanaalfabetizacao/index.php?pagina=2