A Construção de um Paradigma Pedagógico na Prevenção da Corrupção a partir da Análise Simbólica desse Fenômeno na Recente Produção Cultural para o Público Infantil (página 2)
3 - A produção cultural e a construção da realidade
3.1 - A realidade subliminar
A questão da inserção de conteúdo subliminar é envolta em uma aura de secreto, do "mind control", fruto das paranóias persecutórias do período da guerra fria. Entretanto, todo esse exagero não tira do plano da realidade essa questão e suas implicações. Não fazemos referência, obviamente, ao conceito clássico de subliminar, de cartazes com imagens ocultas ou imagens inseridas nas reproduções de filmes. Trata-se de uma visão ampla, de valores e conteúdos inseridos em símbolos nos personagens, nos roteiros e nas formas e que interferem na mediação dos expectadores com a realidade e na sua percepção de mundo, na constatação que não existe produção neutra e sem uma carga de ideologia, que se manifesta simbolicamente nos seus elementos.
Esse aspecto subliminar existe desde o momento que primeiro homem narrou a sua primeira caçada, com as suas impressões pessoais, reverberando seus efeitos para os famosos contos de fadas e para os contos épicos, recheados de valores e mensagens, desaguando na era da comunicação em valores representativos de nações e grupos de interesse, muitos deles econômicos, inseridos nas peças que são exibidas diariamente aos nossos olhos. Seja pela identificação com o personagem, seja pelo ângulo de uma foto ou pela moral na conclusão de uma história, o autor se dirige a um expectador, com interesses de despertar sentimentos diversos e de abalar ou reforçar seus valores com conteúdos que não necessariamente formam o núcleo da história ou são percebidos claramente. Os conteúdos são vinculados a objetos culturais, que atendem a necessidades e projeções da cultura dominante.
Para o universo infantil, vários conceitos são trabalhados pelas peças produzidas, na construção de conceitos mediados pela realidade apreendida nessas, onde diálogos de animais falantes e reinos mágicos reforçam ou demolem idéias sobre a organização estatal, a sua relação com o cidadão e sobre o papel do agente público. As histórias infantis, radicadas nos contos de fadas do obscuro mundo medieval, trabalham com um universo polarizado na mente da criança, onde esta "não se identifica com o bom herói por causa da sua bondade e sim por que a condição de herói lhe traz um profundo apelo positivo" (BETTELHEIM, p.18), erigindo para esta ícones, ídolos de comportamento que influenciam no seu processo de formação de valores.
3.2 - A realidade como uma construção social
Da mesma forma que a produção cultural faz apologia a valores inseridos pelos produtores, ela carrega também elementos daquele grupo social a quem se dirige, insculpidos pelo longo processo cultural, refletida em artefatos apresentados nas histórias de determinadas culturas ou segmentos sociais, como os desenhos nipônicos que revelam monstros vindos do espaço que destroem cidades, reforçando o trauma coletivo de duas bombas atômicas.
Quando se inicia um programa na televisão, uma peça de teatro, uma contação de histórias, os expectadores são transportados a outra realidade, com seu próprio significado, em uma ordem que pode não ter relação com a vida cotidiana (BERGER & LUCKMANN, p.43). Essa nova realidade criada se integra a totalidade das realidades da vida cotidiana do indivíduo, em um todo dotado de sentido. Isso explica por que atores que fazem papel de vilão em telenovelas são agredidos freqüentemente na rua e o famoso case da transmissão de rádio de "Guerra dos mundos", onde a ficção se mistura a realidade.
Essa influência da realidade da produção cultural e da realidade do indivíduo constrói uma nova realidade e consequentemente novas visões e conceitos, principalmente do fenômeno da corrupção. No caso das crianças, a TV substitui a babá contadora de histórias e alimenta o seu mundo imaginário de elementos que vão ter influência ao longo de toda a sua vida. Essa forma de produção, mesmo no mundo globalizado, traz sempre o ponto de vista de um grupo (WOLTON, p.69), onde podemos exemplificar o desinteresse habitual dos nossos patrícios pelas questões da vida pública reforçado por uma imagem de que o Estado é tão corrupto, que o melhor é a negação. Os heróis eleitos são os que combatem o crime contra a propriedade privada e contra a vida, fazendo do Estado um ente apartado das discussões e do universo que sustenta as histórias, seja pelas suas ações, seja pelas suas corrupções.
3.3 - A vontade na produção cultural
O mundo nas três últimas décadas do século passado viveu dias confusos. De um mundo polarizado na chamada "Guerra fria", onde as forças dominantes reforçavam regimes totalitários em todo o globo, seguiu-se para uma abertura voltada para a dita globalização, acompanhada de uma revolução tecnológica e de um vertiginoso aumento da população e do consumo, onde a liberdade foi alçada ao cume do valor principal, deixando a igualdade e a fraternidade para trás.
Toda essa conjuntura geopolítica e social influenciou a produção cultural voltada ao público infantil, principalmente no reforço da visão maniqueísta de mundo, retratando sempre o aparelho estatal de forma idílica, imaculada, resquício de uma época em que reis absolutistas eram divindades e dos grandes ditadores. Em especial, a monarquia é sempre valor presente nas representações estatais do período da "Guerra fria".
A queda desse paradigma, com a prevalência do modelo pós-modernista, onde tudo é passageiro, diminuiu o fosso entre os súditos e o rei, fazendo a visão de Estado se macular, pela força da liberdade de expressão do indivíduo, que destruiu os ídolos de "pé de barro", mostrando um Estado digno de nossa total desconfiança. O mundo supostamente imutável ruiu e com ele o nosso refúgio, a Pasárgada individual, o que descortinou uma realidade instável, onde a verdade nua e crua dilacerava os mitos e heróis. Não por outro motivo vamos falar de convenções relevantes de corrupção apenas na década de 90, pois a insegurança da atuação do Estado, antes Todo-Poderoso, demandava o controle. Desse modo, a produção cultural, antes influenciada por forças totalizantes, se diversificou, em um contexto plural de discursos, incluindo aqueles que não recebiam a ação estatal pelas mazelas da corrupção, fazendo desse fenômeno antes oculto, palco dos telejornais e também dos desenhos animados.
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