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Significar a Educação: Da Teoria à Sala de Aula (página 4)


Entre outros autores, Popkewitz também concorda com Silva quando diz que "remover as pessoas da história, significa fazer com que o mundo pareça determinístico e fora da possibilidade de intervenção". (Silva, 1995:198) Ou seja, cortar o elo histórico onde se formou o sentido da nossa existência e onde nossa cultura foi constituída e sempre reconstruída, é matar o sentido da pessoa humana. Gostamos muito da analogia da árvore: cortar suas raízes é matá-la. Isso se estende a todas as formas de vida, inclusive aos conteúdos trabalhados em sala de aula.

E isso, apoiados por Silva, quando diz que "aprender gramática, ciências ou geografia é também aprender disposições, consciência e sensibilidades em relação ao mundo que está sendo descrito"(1995:185), são lições para a educação poder reconstruir o seu sentido. 


DO CONTEXTO QUE ORIGINOU O CONTEÚDO, À SIGNIFICAÇÃO CONTEMPORÂNEA : UM EXERCÍCIO DE RESGATE PARA O PROFESSOR

"Ninguém consegue explicar algo se não compreendeu" (Morin)

Propor o resgate histórico dos conteúdos para significá-los na sala de aula, não nos veio por acaso. Foi fruto de reflexões e de buscas. Ao longo de alguns anos, passo a passo, com os professores, havíamos conseguido construir um planejamento (Projeto Pedagógico, Plano de Estudos - Plano de Trabalho), com metodologia e avaliação bastante fundamentado e coerente. Havíamos, ao menos, intentado, comunicar bom dinamismo ao processo. E havíamos implementado uma sistemática de formação continuada em serviço de um grupo de professores que acompanhávamos. Assim mesmo(aun asi) persistiam entraves, particularmente limitações dos professores.

Fomos obrigados a buscar as origens do problema, as razões por que o processo estava travado. No planejamento constavam as competências almejadas pela escola, a  partir da teoria de Perrenoud, Moretto, entre outros. Ou seja, buscava-se um aluno capaz de resolver situações complexas fora da rotina, utilizando, para tanto, exercícios mentais (habilidades) superiores (analisar, comparar, argumentar, ...). Fez-se todo um estudo sobre os conceitos de competência, habilidade e suas dimensões na prática, ou seja na metodologia e na avaliação.

Estava claro que, para desenvolver o perfil de aluno almejado, necessitava-se desenvolver o espírito de pesquisa no cotidiano escolar. Tinha-se como pressuposto que o desenvolvimento da pesquisa exigia desafiar o aluno a partir de situações e problemas do seu contexto, e para que o conteúdo lhe proporcionasse o fundamento para a compreensão das situações e/ou solução dos problemas. O Arco de Maguerez, que vamos abordar detalhadamente mais adiante (Hengemühle, 2004:102-110), ajudou-nos muito como caminho para que a pesquisa pudesse tornar-se realidade na sala de aula.

O planejamento, os fundamentos teóricos de como deveria ser a prática pedagógica estavam, portanto, clara e exaustivamente discutidos com os professores, nos grupos de estudo, nas reuniões pedagógicas, nas jornadas pedagógicas, nos cursos, nas palestras, na construção conjunta de Planos de Estudo e Planos de Trabalho, ... No entanto, quando víamos a prática, a metodologia e a avaliação, a teoria, o planejado estavam distantes. Começamos, então, a nos dar conta de que a origem do problema era anterior.

Constatamos que a questão se situava no início do processo metodológico. O grupo vinha exercitando sua prática trabalhando com o Arco de Maguerez. Conforme este, o professor inicia o processo partindo de situações-problema reais e significativos para os alunos, despertando-lhes o desejo e a necessidade de buscar no conteúdo base para a sua compreensão e/ou solução. Percebemos, nesse momento, que o professor não conseguia formular situações-problema.

Por que? Pelo quase total desconhecimento do que é um problema pedagógico. Na maioria das vezes, o professor entende que formular problema pedagógico é apresentar conteúdos e fazer perguntas sobre esses conteúdos exigindo do aluno apenas o exercício de decorar as fórmulas e repetir as respostas de questões anteriormente treinadas.

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Como referenciar: "Significar a Educação: Da Teoria à Sala de Aula" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 19/05/2024 às 13:11. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/significar/index.php?pagina=3