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TDAH e Controle Inibitório: Relevância de um Programa Neuropsicopedagógico de Estimulação das Funções Executivas em Sala de Aula (página 4)

5. CONTROLE INIBITÓRIO E TDAH

Para alguns autores, as funções executivas podem ser classificadas em quentes e frias.

As funções executivas "frias" estão relacionadas a habilidades puramente cognitivas do córtex pré-frontal dorso lateral e são ativadas por problemas abstratos, descontextualizados e que requerem a capacidade de suprimir processos automáticos ou respostas preponderantes, e as "quentes" aos aspectos afetivos do córtex pré-frontal orbitofrontal e ventromedial e são ativadas quando alguém é obrigado a reavaliar o valor afetivo/motivacional de um estimulo e quando há situações que envolvam a empatia e tomadas de decisões relacionadas aos aspectos motivacionais, como ter que escolher uma recompensa tanto sendo imediata e pequena, ou grande e tardia. A isso denominamos de capacidade de atraso da consequência reforçada. Essa visão nos direciona a entender que as habilidades executivas variam quanto ao seu significado emocional.

Entendemos as funções executivas, portanto, como a capacidade de nos comportarmos de forma autônoma, intencional e planejada, torna-se necessário compreender as etapas constituintes desse processo. Por exemplo, se tenho como objetivo melhorar minhas notas escolares, devo me empenhar em uma série de comportamentos para atingir esse meu objetivo. Estabelecer um cronograma de estudos e analisar quais as disciplinas que devo me concentrar mais (planejamento), devo também prestar mais atenção nas aulas que tenho maior dificuldade (atenção seletiva), resistindo à tentação de mandar bilhetinhos para minhas colegas (controle inibitório). Caso surja algum imprevisto, mudar meu cronograma ou minhas estratégias de estudo (flexibilidade cognitiva). Para conseguir manter-me empenhado em tais comportamentos, é fundamental que eu sempre tenha em mente meu objetivo final, ou seja, melhorar minhas notas, e que saiba aproveitar as informações do ambiente e minhas experiências, de modo a otimizar minha meta (memória de trabalho).

No TDAH as dificuldades em manter esse gerenciamento são evidentes: a atenção seletiva e o controle inibitório encontram-se pouco ativados e assim, os prejuízos comportamentais, acadêmicos e sociais são impactantes.

A atenção seletiva é a capacidade de selecionar informações relevantes do ambiente e, paralelamente, inibição de outras informações irrelevantes para determinada tarefa.  O comportamento orientado para um objetivo requer, além da sustentação e manipulação de informações, a seleção de informações relevantes à tarefa, habilidade esta que também é característica de tarefas associadas ao CPF lateral.
     
Estudos revelaram a existência de duas maneiras de selecionar estímulos por meio de processos atencionais: as maneiras automática e controlada. Na maneira automática a atenção é focada sem que haja manifestação voluntária do sujeito, podendo também resultar de uma aprendizagem ocorrida, como acontece após indivíduos aprenderem a dirigir. Na controlada (Sistema Atencional Supervisor (SAS)) o sujeito seleciona o foco da sua atenção a partir da sua vontade e necessita aprender uma nova resposta, consciente e voluntariamente.

Uma característica desses sistemas é a competição, entre ambos, pela seleção de uma informação. Um exemplo disso ocorre em diversos contextos em que se faz necessária a inibição de uma resposta automática em detrimento de outra controlada voluntariamente. Essa capacidade de selecionar e/ou inibir respostas, é proporcionada pelo SAS.

No TDAH o comprometimento da atenção seletiva e do controle inibitório leva a uma inabilidade para inibir ações e pensamentos, resultando num comportamento impulsivo e desprovido de atenção.

A autorregulação é um aspecto fundamental e central no indivíduo e está intimamente ligada ao bom desempenho e desenvolvimento das funções executivas. Para que possamos aprender, as funções executivas precisam ter sido desenvolvidas desde a primeira infância para que possamos fazer uso delas quando necessitamos de foco, atenção seletiva e inibir comportamentos e para nos manter direcionados a objetivos e metas.

A baixa tolerância de nossas crianças com TDAH à frustração e a busca da gratificação imediata podem levar a condutas impulsivas e a comportamentos de risco. A impulsividade está associada a atuação do córtex orbitofrontal (funções executivas quentes) e que são  ativadas, como vimos, por fatores motivacionais e emocionais significativo e  funções que entram em ação quando problemas que envolvam a regulação do afeto e da motivação se apresentam, ou seja, regulação das funções do sistema límbico. A ausência de controle inibitório leva a uma falta de capacidade de parar, pensar, refletir e agir.


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Como referenciar: "TDAH e Controle Inibitório: Relevância de um Programa Neuropsicopedagógico de Estimulação das Funções Executivas em Sala de Aula" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 08:21. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/tdah_e_controle_inibitorio/index.php?pagina=3