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TDAH e Controle Inibitório: Relevância de um Programa Neuropsicopedagógico de Estimulação das Funções Executivas em Sala de Aula (página 3)

3. FUNÇÕES EXECUTIVAS

"Como uma grande corporação, uma grande orquestra ou um grande exercito, o cérebro consiste em componentes distintos que desempenham diferentes funções. E assim, como essas organizações humanas o cérebro tem os seus diretores executivos, seu regente, seu general, os lobos frontais"
                                                                           Elkhonon Goldeberg

Vários autores têm feito suas considerações acerca do que sejam as funções executivas. Em um conceito bem simples e objetivo, podemos dizer que se referem à capacidade do sujeito de engajar-se em comportamentos orientados a objetivos, realizando ações voluntarias, independentes, auto-organizadas e direcionadas a metas específicas: um conjunto de capacidades que possibilitam o desempenho de ações voluntárias orientadas a metas.

As funções executivas são especialmente importantes diante de situações novas para o sujeito ou em situações que exigem, com rapidez, o ajustamento ou flexibilidade do comportamento para as demandas do ambiente. Direcionam e regulam varias habilidades intelectuais, emocionais e sociais e permitem deliberar os diferentes desafios necessários para a resolução com sucesso de ações direcionadas.

Para Golderman (2002), o CPF (córtex pré-frontal) é a estrutura cerebral que mais está implicado em uma rede rica de caminhos neurais, pois se conecta com varias estruturas, intercomunicando-se a elas: córtex de associação posterior, córtex pré-motor, gânglios basais,cerebelo, núcleo talâmico dorso medial, hipocampo e estruturas relacionadas, como o córtex cingulado amídalas, hipotálamo e núcleos do tronco cefálico.

 Segundo Rotta (2007), desde o período gestacional estruturas macro e micro apresenta suas modificações frente a migração neuronal e organização da arquitetura neuronal e no nascimento a completude neuronal acontece, por meio de sinaptização e mielinização de suas estruturas.

O bebê já tem seu cérebro razoavelmente bem constituído, mas é um ser ainda somatossensorial, cuja sequencia da organização circuitária cerebral é dependente de estímulos sensoriais e afetivos oriundos do meio ambiente. Isso quer dizer que sua genética o predispõe aos mais variados comportamentos e capacidades, passando a receber influencia do meio em que vive. 

As vivências e aprendizagens diárias irão reestruturar uma rede neurobiológica que será responsável pela expressão, atitudes e ações em busca de autonomia. É nessa fase que os primeiros cuidados irão desenvolver as relações e vivencias  afetivo-somatossensoriais.

Para Rotta, essa relação mãe/bebê tem sua expressão no SNC e em suas redes funcionais, pois serão determinantes para o processo de organização das redes neurais funcionais e na expressão e adequação dos comportamentos e ações futuras. A relação mãe/bebê traz consequências na organização neuronal de ambos, mas é no bebê que será o alicerce de futuras aquisições. Esses circuitos neurais acontecem no hemisfério direito por intermédio da amígdala, área orbitofrontal e do cíngulo anterior, que serão a bases de sistemas de maior complexidade mais tarde.

É no decorrer das primeiras semanas que o bebê percebe que a mãe é outro indivíduo: início do diálogo (eu/não eu). Quando tem fome chora e tem que se adequar a sua solicitação pela ausência da mãe e assim se inicia o processo de simbolização. Essas são as primeiras aprendizagens (regras e disciplinas agregadas ao acolhimento, dando sequência à modelação à arquitetura cerebral).

A amídala cerebral é responsável pelo acionamento do comportamento emocional participando das sensações de medo e ansiedade: aciona o sistema nervoso autônomo e parassimpático, desencadeando manifestações como prontidão, circulação sanguínea, alterações do tônus muscular, do hipotálamo com seus precursores hormonais onde suas ações interferem no metabolismo cerebral e na vitalidade dos neurônios.

Pouco a pouco a atividade da amídala vai se regulando através do cíngulo e da área orbitofrontal, que aumenta de volume e fica maior que a amídala nos três primeiros anos de vida. Isso devido a sua atuação funcional pela sucessão de experiências cognitivo-emocionais, que a criança vai acumulando na sua relação e ajuste com o meio. Esses são os primeiros passos para a organização das funções executivas. As aprendizagens vão se alicerçando essas organizações e caberá à família vivências e convívio com suas frustrações e não permitir que tudo seja viável e possível. Os limites são importantes, pois a criança vai aprender a conviver com frustrações e a inibir comportamentos importantes para a instauração da vida psíquica e da capacidade mental da criança produzindo repercussões na circuitação cerebral, modelando e remodelando, dentro de certos limites, respeitando a plasticidade cerebral.

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Como referenciar: "TDAH e Controle Inibitório: Relevância de um Programa Neuropsicopedagógico de Estimulação das Funções Executivas em Sala de Aula" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 04/05/2024 às 18:40. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/tdah_e_controle_inibitorio/index.php?pagina=2