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Aproximações Sobre a Vocação como Premissa na Formação Docente (página 3)

3 A arte da Pedagogia

Assim como um pintor cria suas obras empregando nela seu próprio espírito, ou como o ator em palco encanta com suas facetas e facilidades de transformar-se de anjo em demônio em segundos, e até mesmo o professor bem sucedido, respeitado e venerado, todos estes conseguem arrancar aplausos de suas respectivas platéias. Mas aquele que pintou e não agradou, aquele que encenou e não emocionou e aquele que falou, falou, mas nada ensinou, são esquecidos e a oportunidade que lhes dera o tempo, desrespeitada, mal aproveitada, acaba tornando-se prejudicial àqueles que dela partilharam. Não foi ao acaso a analogia, mas é por acreditarmos que ensinar é uma arte e o mestre é o artista.

Escolas de artes plásticas, de artes cênicas, e de professores estão á disposição para ensinar um oficio àqueles que ainda não os têm. Mas será que o resultado final daquele que tem a técnica do pincelar é melhor do que daquele que a paixão pela arte lhe fez artista? Será que ensina melhor aquele que estudou teorias e teorias pedagógicas sem nenhuma aptidão á docência ou sem nenhum conhecimento da prática, do que aquele que empregou anos de sua vida na busca pelo saber, desenvolvendo sua identidade dentro da teia escolar, a fim de cada vez melhor poder transmiti-lo?

Tal como a navegação decorre mais tranqüila quando o vento e as ondas favorecem, assim, mais facilmente, somos instruídos naquilo para o qual a inclinação do espírito nos conduz. (ERASMO, p. 29).

A passagem de Erasmo elucida bem nosso pensamento. Não queremos afirmar que não é possível aprender aptidões, pois, se deste modo pensássemos, encerraríamos nosso discurso neste momento, pois o que acreditamos da pedagogia, render-se-ia aos encantos da linha racionalista. No entanto, é preciso considerar o fato, para se fazer compreender a necessidade de realização e ampliação do estágio curricular.

Considerando os pressupostos da teoria histórico-cultural, onde o homem desenvolve-se a partir do contato e interação com o meio no qual está inserido, ou mesmo que "os processos básicos da mente não são manifestações da vida interior do espírito ou o resultado da evolução natural, a mente origina-se na sociedade", (Luria apud DurKheim), não se pode desconsiderar a possibilidade de acadêmicos sem inclinação ao curso, envolverem-se com a perspectiva de um futuro voltado para o exercício e promoção da educação.

Não é possível garantir o sucesso profissional e satisfação pessoal, á ninguém. Mas é mais impreciso o destino daquele que ingressou no curso de pedagogia por motivos irrelevantes. No entanto, é quase certo, que este profissional possa vir á destinar anos de sua vida á favor de uma causa que não lhe dá satisfação profissional e prazer pessoal, e pior, que este fato leve ao surgimento de um profissional desinteressado, despreocupado com sua função, não pela escolha do curso, mas pela atitude de fracasso ao desistir de suas próprias aspirações. O estágio curricular, poderá alertar este acadêmico "desencontrado" enfatizando a importância do envolvimento dele para a promoção positiva do processo educacional.

4 Considerações Finais

Como é de costume, os "calouros", ao receberem a noticia de ingresso na universidade, escrevem no rosto o curso no qual ingressaram. Quanto destes já se viu com a inscrição "Pedagogia"? Quantos comerciais televisivos ou impressos de cursos pré-vestibulares utilizaram a seguinte propaganda: "Aprovamos 10 em Medicina, 8 em Direito e 6 em Pedagogia". Arriscamos dizer que nenhuma.

Os pedagogos não salvam vidas, não defendem direitos civis, criminais, trabalhistas ou matrimoniais, mas auxiliam na cura de enfermidades do intelecto, tornando os homens efetivamente "homens", mais do que isto, é por meio deste profissional que o direito á educação constitucionalmente garantido é colocado em prática. Mas a desvalorização existe.

Tendo como princípio o fato de que a afinidade e o prazer em fazer algo estão intimamente ligados com a formação de um bom profissional, acreditamos que o fato de muitos acadêmicos do curso de Pedagogia terem ingressado no curso após tentativas frustradas em outros e a má realização do estágio curricular, possam possibilitar que estes acabem por contribuir com a desvalorização do curso. Tal desvalorização pode contribuir para a formação de profissionais desinteressados, prejudicando a imagem do curso e do próprio docente.

Podemos perceber que se de fato o curso de Pedagogia é desvalorizado, não foi a sociedade sozinha que lhe colocou esta máscara, mas existe uma contribuição geral, dentro da própria área de formação, para que esta degradação ainda esteja presente, se não direta, mas indiretamente, por meio das práticas e posturas do próprio acadêmico do curso.

Não é possível neste momento, realizar afirmativas a cerca da relação entre formação e vocação, contudo, empiricamente podemos contribuir afirmando que o estágio curricular possa ser se não a única, mas a mais enfática possibilidade de formação de uma identidade docente, e por isso se faz tão necessário e presente.

Referências

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Como referenciar: "Aproximações Sobre a Vocação como Premissa na Formação Docente" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 21/10/2025 às 23:43. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/vocacaodocente/?pagina=2