Você está em Artigos

O Acompanhamento Familiar no Desenvolvimento Educacional da Criança (página 2)

2.1 Educação familiar e suas influências na aprendizagem da criança

Segundo a teoria Integração Relacional, do psiquiatra e educador Içami Tiba (1998), o comportamento humano apresenta três níveis: 1. nível biológico ou instintivo, que é regido pelos instintos característicos dos animais mamíferos; 2. nível psicológico ou aprendido, que resulta da inteligência humana formando a base para o nível seguinte; 3. nível social ou evoluído, que caracteriza a capacidade relacional do ser humano, visto que este é um ser gregário que vive em sociedade. Neste nível está presente a disciplina, a gratidão, a religiosidade, a ética relacional e a cidadania. Com base nisso, entende-se que o ser humano quando nasce é guiado apenas pelos instintos cuja relação com o mundo é caracterizada pela sensação de prazer e desprazer, após algum tempo o individuo percebe-se em uma realidade onde busca o equilíbrio entre situações que satisfaçam suas necessidades e as exigências sociais e culturais.

De acordo com Tiba (1998), atualmente a educação domiciliar está muito carente desse terceiro nível, posto que já é muito difícil as famílias ensinar o segundo, por conta da falta de uma maior clareza do certo e do errado que prejudica o estabelecimento de limites e responsabilidades. Tudo isso, resultante de falhas na educação familiar, favorecendo uma relação de prazer e desprazer com o mundo, rejeitando qualquer esforço, pois aos filhos tudo é permitido e quando esse filho torna-se aluno está despreparado para as práticas de aprendizagem da escola que exigem deles prontidão para as aulas.

A criança escolhe algo. Se é gostoso vai em frente. Se encontra dificuldades, larga. É uma geração com muita iniciativa e pouca "acabativa", que está indo para escola sem grandes motivações de estudo e dificilmente se adaptará ao sistema psicopedagógico clássico (TIBA, 1998, p.28-29).

O tipo de educação familiar pode prejudicar ou facilitar a aprendizagem, pois, esta é afetada por vários fatores ligados à família, trazendo consequências negativas para o desenvolvimento da criança dentre os quais se destacam, segundo Piletti (1995), a educação autoritária, que oprime e divide sentimentos provocando dificuldades para a criança se relacionar com o meio social podendo ocasionar fuga para um mundo de fantasia, e as vezes agressividade e teimosia; o excesso de mimos, que induz a dedicar-se a aprendizagem escolar como meio para alcançar um mimo que costuma ter em casa; a educação desigual, quando o pai age de um jeito e a mãe de outro; a educação que valoriza a ambição, quando os pais  esperam que os filhos alcancem resultados fora do comum, desenvolvendo nas crianças um falso sentimento de superioridade que pode frustrá-la quando as expectativas dos pais não forem alcançadas; a falta de amor, crianças não amadas ou rejeitadas pelos pais manifestam muita necessidade de reconhecimento, atenção e carinho, desenvolvendo muitas vezes comportamentos inadequados na escola como meio de chamar a atenção. Então, acredita-se que a educação familiar adequada é aquela feita com amor, paciência e coerência, para desenvolver nos filhos autoconfiança e espontaneidade favorecendo a disposição para aprender.

[...] Dizem os psicólogos e confirmam, na prática, professores e psicopedagogos, que não há desenvolvimento equilibrado e saudável da criança, sem a família. A escola contribui para socialização crescente da criança, porém, é na família que ela encontra todos os insumos necessários (autoestima, afetividade, confiança, motivações intrínsecas, quadro de emoções saudáveis, aceitação, autonomia, intencionalidade, decisão, maturidade, respeito, elementos de reciprocidade etc.) para aguar este processo de socialização e de socio-afetividade, chão e base de sustentação para o desenvolvimento da aprendizagem (CARNEIRO, 2010, p.43).

Dessa forma, o compromisso deve ser de todos, devendo os pais, com coerência, constância e responsabilidade, ensinar a educação relacional necessária ao processo de aprendizagem escolar, estabelecendo regras a serem obedecidas pelos filhos em qualquer lugar, pois, o não cumprimento dessas regras acarretará em consequências. Uma vez que, é a família que geralmente proporciona as crianças suas primeiras experiências educacionais, influenciando-as e moldando aos poucos seu comportamento, mesmo que de forma inconsciente. Quanto à escola, esta deve levar em consideração a situação familiar de cada aluno, proporcionando o aprendizado do conhecimento através da organização sistemática das informações e conceitos, promovendo a aquisição de novas e diferentes habilidades.

3 A CRIANÇA E SUAS PECULIARIDADES NO MEIO SOCIAL

O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998) define a criança como um sujeito social e histórico que faz parte de uma organização familiar que estar inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura e momento histórico. Sendo assim, percebe-se que a criança caracteriza-se por suas particularidades que a definem e formam de acordo com o meio social. Dessa forma diante do processo de desenvolvimento da criança, faz-se necessário analisar e compreender suas ideias e maneiras de entender o mundo em que vivem, sendo este caracterizado particularmente de acordo com os aspectos afetivos, emocionais, cognitivos e sociais da criança.

Nessa perspectiva a criança é marcada pelo meio social em que se desenvolve, tendo a família como um ponto de referencia, sendo ela a primeira instituição social responsável pela efetivação dos direitos básicos da criança. Pois, é nas relações que ela vivencia no ambiente familiar e através das trocas interpessoais que a criança desenvolve sua identidade, autoconfiança e dínamo de suas motivações (CARNEIRO, 2010).

Compreender o mundo do adulto passa a ser um desafio valioso para a criança, sendo que ela desenvolve um sentimento unilateral de respeito em relação ao adulto, construindo sua primeira moral que é dependente da vontade dele. Esta moral só poderá ser superada depois dos sete anos, com a substituição do respeito unilateral da criança para com o adulto, pelo respeito mútuo (PILETTI, 1995).

A partir dos oito anos, a intenção da criança começa a ser importante no julgamento moral, porque diminui a influência das crianças da mesma idade. Aos nove anos a maioria das crianças se ver independente e às vezes dispensa a ajuda dos pais, formando o seu próprio ponto de vista como consequência da interação com seus companheiros (LAMARE, 1969).

Só a partir do fim da infância, quando o indivíduo já pode organizar de maneira autônoma suas normas de conduta e seus valores, é que pode estruturar sua personalidade (PILETTI, 1995). Portanto não se deve marcar e estigmatizar as crianças pelo o que a difere, mas levar em conta suas singularidades, respeitando-as e valorizando-as como fator de enriquecimento pessoal e cultural. E como a escola pode contribuir para esta valorização? Para o engrandecimento pessoal e cultural dos pupilos?

Anterior   Próxima

Voltar para a primeira página deste artigo

Como referenciar: "O Acompanhamento Familiar no Desenvolvimento Educacional da Criança" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 20/04/2024 às 00:01. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/desenvolvimentoeducacionaldacrianca/index.php?pagina=1