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Diagnóstico, Cultura e Clima Organizacional (página 6)

1.2.5 Cultura organizacional e cultura nacional

Como sabemos, existem diferentes aspectos culturais que caracterizam as sociedades. Os sujeitos, oriundos desta cultura, chegam à organização impregnados destes aspectos, que os influenciam no agir cotidiano, conferindo-lhes identidade e sentimento de vinculação e pertencimento. Precisamos considerar, para entendimento da cultura organizacional, quais os efeitos desta cultura nacional (ou regional) na inserção dos indivíduos na cultura organizacional. No caso do Brasil, especialmente, esta análise deve observar as diferenças culturais regionais, tendo-se em vista a dimensão continental e a diversidade cultural do país. De qualquer forma, cabe entender que um dos grandes motivadores para o estudo da cultura organizacional foi justamente o processo de internacionalização das organizações, que trouxe consigo a necessidade de entender e prever como poderia ser feito o processo de aculturação na organização. Tratando-se de instituições multinacionais que instalariam filiais em outros países, e não poderiam deixar de considerar que os trabalhadores estariam inseridos na cultura local.

Algumas pesquisas indicam que as culturas nacionais exercem maior impacto nos indivíduos do que a cultura corporativa. O maior estudo a respeito das culturas nacionais foi realizado por Hofstede, que analisou, entre 1968 e 1972, 116 mil questionários aplicados em 72 diferentes subsidiárias da IBM em 39 países, chegando às seguintes dimensões a respeito das culturas nacionais:

* Individualismo x coletivismo: na dimensão individualismo está contemplado a defesa dos interesses próprios, bem como daqueles que nos são próximos; na dimensão coletivista o interesse do grupo social é mais valorizado, em detrimento inclusive do pessoal. "É o caso em que as pessoas esperam que seus grupos dêem proteção a seus membros, fornecendo-lhes segurança em troca de lealdade" (MOTTA, 1997, p. 27). Como exemplos de individualismo têm a cultura americana e, como coletivista, a cultura japonesa.

* Distância do poder: esta dimensão refere-se à forma como as pessoas com menor poder dentro da organização aceitam a sua distribuição desigual. Caracteriza-se como grande distância de poder uma estrutura com grande rigidez hierárquica e diversos níveis de poder. Nas culturas com elevada distância de poder, passar por um dos níveis hierárquicos é considerado insubordinação, o que pode ser visto como algo natural nas culturas caracterizadas por baixa distância de poder.

* Evitar incertezas: a tônica desta dimensão é evitar o desconforto causado por situações instáveis. Neste sentido, um elevado nível de busca de incerteza busca a estabilidade profissional e acercar-se do cuidado da organização, vista como a grande protetora e provedora. Num baixo nível de evitar a incerteza estão as culturas mais empreendedoras, com alta mobilidade e baixa distância de poder.

* Masculinidade x feminilidade: nesta dimensão tem-se a masculinidade quando os valores dominantes enfatizam a assertividade e os aspectos materiais, bem como a valorização do aspecto econômico; nas culturas caracterizadas pela feminilidade, o foco da preocupação é com as relações, com as pessoas e o seu bem-estar.

* Orientação de curto prazo x orientação de médio prazo: nas culturas que enfocam o futuro, a orientação e o planejamento tendem a ser de longo prazo; já aquelas que enfocam o passado e o presente orientam e planejam em curto prazo.

A grande descoberta de Hofstede refere-se à importância da cultura nacional na explicação das diferenças de atitudes e valores em relação ao trabalho. Esta influência também deve ser observada para um entendimento da relação dos indivíduos com o trabalho.

O esquema abaixo apresenta as características da cultura brasileira de acordo com as dimensões de análise da cultura de Hofstede (apud SILVA e ZANELLI, 2004, p. 424):

1.2.6 A cultura brasileira e seus reflexos na cultura organizacional

O Brasil tem em sua formação a miscigenação, resultado do cruzamento entre o índio nativo, o negro trazido como escravo, o português colonizador e os demais povos imigrantes, principalmente europeus, que aqui se instalaram para trabalhar e fixar suas raízes. Todas estas raças, juntamente com a história da catequização, da colonização e da escravidão contribuíram para a formação de uma cultura muito peculiar, a qual gerou traços predominantes em nosso povo. Freitas (1997) categorizou estes traços, buscando estabelecer a sua influência na cultura brasileira. São eles: hierarquia, personalismo, malandragem, sensualismo e aventureiro.

A hierarquia reflete a tendência à centralização do poder dentro dos grupos sociais, causando o distanciamento nas relações e gerando aceitação e passividade daqueles que se encontram nos níveis hierárquicos inferiores. Este traço tem origem na estratificação social rígida no período da escravatura, onde "há uma distância quase infinita entre senhores e escravos" (Freitas, 1997, p. 46). O modelo patriarcal, por sua vez, regula a centralização do poder absoluto do governante e a subordinação dos dominados.

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Como referenciar: "Diagnóstico, Cultura e Clima Organizacional" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 03/05/2024 às 03:13. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/diagnosticoorganizacional/index.php?pagina=5