Diagnóstico, Cultura e Clima Organizacional (página 7)
O personalismo espelha um modelo de sociedade baseada nas relações pessoais, onde há uma busca de proximidade e afeto nas relações. Neste contexto, o paternalismo, caracterizado pelo domínio moral e econômico, negou o individualismo típico do modelo capitalista atual.
Nossa unidade básica não está baseada no indivíduo, mas na relação. O que vale aqui não é a figura do cidadão, mas a malha de relações estabelecidas por famílias e grupos de parentes e amigos (DAMATTA apud FREITAS, 1997, p. 47-48).
Outra característica deste traço é o calor humano, a afetividade, a negação do confronto e as soluções violentas. Por outro lado, nossa aversão a formalidades e ritualismos demonstra uma postura aberta e à vontade, exemplificada em nossa hospitalidade e cordialidade e na incessante busca de intimidade.
A malandragem explora um traço de flexibilidade e adaptabilidade que permite ao brasileiro transitar em diversas situações. É o chamado "jeitinho", que encontra sempre um caminho intermediário entre o "pode" e o "não pode". O brasileiro, "sendo flexível, consegue adaptar-se às mais diversas situações, saindo-se quase sempre bem nas situações difíceis" (FREITAS, 1997, p. 50). Neste sentido, esta capacidade sugere um povo criativo, facilmente adaptável, dinâmico e que busca, através do tato, encontrar a melhor forma de desvencilhar-se de problemas.
O sensualismo denota o gosto pelo sensual e pelo exótico nas relações sociais. Herdado inicialmente da poligamia indígena, associada à miscigenação entre índios e colonizadores portugueses, foi fortemente alimentado pela saciedade carnal dos senhores com as negras escravas. O carnaval, a culinária picante, as danças e músicas dão o tom de um apelo sensuais muito característicos da nossa cultura. Com estas influências, nossas relações interpessoais são carregadas de uma dose de sensualismo, a fim de auxiliar no alcance de nossos objetivos. "Gostamos do contato próximo, de pele, das falas carinhosas, e dos olhares atravessados" (FREITAS, 1997, p. 52).
O aventureiro, por sua vez, retrata um jeito de ser mais sonhador do que disciplinado, que apresenta uma aversão ao trabalho metódico e manual. Este traço provém da herança de colonização portuguesa, que desprezava o trabalho, exaltando a vida de senhor, reforçado mais tarde pela escravatura, onde fica claro o desprezo pelo trabalho manual. Caracterizam um estilo de vida que busca as recompensas imediatas e fáceis. Há uma tendência a sonhar alto, sem planos efetivos para concretização dos sonhos, bem como o interesse no retorno de curto prazo.
1.2.7 O estilo brasileiro de administrar
Prates e Barros (1997) defendem que o estilo de gestão também é uma expressão da cultura de um país, e apresentam o estilo brasileiro de gerenciar através da interseção dos elementos referentes a quatro subsistemas intimamente relacionados: o institucional, o pessoal, o dos líderes e o dos liderados, assim caracterizados:
O subsistema formal ou institucional refere-se aos traços culturais expressos pelo indivíduo no espaço da "rua", resultantes da concentração de poder e do paternalismo (postura de espectador, formalismo e impunidade).
O subsistema pessoal representa os traços culturais usuais no ambiente "de casa", que asseguram a segurança e a harmonia (personalismo, lealdade pessoal, evitar conflito).
O subsistema dos líderes indica os traços presentes sob o ponto de vista dos que detém o poder (concentração de poder, paternalismo e personalismo), os quais geram a postura de espectador e a ausência de enfrentamentos.
O subsistema dos liderados representa os traços culturais dos brasileiros enquanto subordinados (postura de espectador e evitar conflitos), gerando sujeitos altamente flexíveis, caracterizados pela adaptabilidade e criatividade.
Existem alguns traços culturais comuns aos quatro subsistemas, que são:
- Concentração de poder : baseada na hierarquia, representa a situação de mando e subordinação característica da cultura tipo "manda quem pode, obedece quem tem juízo";
- Postura de espectador : a qual reflete a dependência e subordinação ao poder, bem como a atitude de ficar "à espera" de que as coisas sejam decididas e comunicadas, sem apelo crítico;
- Personalismo : baseia-se na referência ao cargo ocupado pela pessoa, ao seu poder, suas relações, ou, ainda, ao seu carisma pessoal, que faz com que seja dada importância à pessoa detentora de tais atributos, em detrimento dos interesses do sistema;
- Evitar conflito : caracteriza a completa falta de disposição para o enfrentamento, representando uma cultura passiva, desmotivada, e alienada.
Os traços culturais especiais, por sua vez, são:
- Paternalismo : atitude de dependência do liderado em relação ao líder, herança do modelo colonial, em que o senhor de engenho cuidava de todos;
- Lealdade pessoal : característico da relação de pertencimento e de fazer parte de umgrupo, representa a lealdade ao líder e ao grupo, em detrimento dos interesses do sistema maior da sociedade;
- Formalismo : indica uma visão um tanto distorcida entre a lei e a prática, evidenciando uma postura imediatista e de pouca tolerância ao adiamento de recompensas;
- Flexibilidade : traço que reflete a grande criatividade e adaptabilidade do povo brasileiro às mais diversas situações.
Os aspectos anteriormente apresentados são possibilidades de análise de nossa cultura, e objetivam oferecer alguns subsídios para diagnóstico da cultura das organizações que estão no Brasil empregando brasileiros. Não podemos negar nossas origens e mudar nosso passado, no entanto, precisamos compreender a realidade organizacional, bem como colher elementos para subsidiar possíveis projetos de intervenção. Este é o aspecto prático da análise da cultura nacional e organizacional. Assim, identificam-se os elementos que representam os três níveis de expressão da cultura em sua organização: artefatos, valores e pressupostos básicos.