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Disciplina e Indisciplina na Escola - Fundamentada nas Teorias Piagetianas (página 3)


 
3. DESENVOLVIMENTO MORAL NA CRIANÇA

Acerca do desenvolvimento moral da criança, Piaget ressalta que este ocorre por etapas de acordo com os estágios do desenvolvimento humano.

A passagem dos estágios não apresenta uma ruptura na transição e sim o favorecimento para o período seguinte, levando em conta que quanto mais estímulos forem dados, a criança tornar-se-á mais amplo o campo do desenvolvimento que perpassa a vida de cada indivíduo.

Etapas:

  • Anomia (crianças até cinco anos) - Ocorre que a moral não se coloca, ou seja, as regras são seguidas, porém o indivíduo ainda não está mobilizado pelas relações bem x mal e sim pelo sentido de hábito de dever da obediência.
  • Heteronomia (crianças até 9 e 10 anos) - Nesta etapa a moral é igual à autoridade, onde as regras não correspondem a um acordo mútuo, mas sim algo imposto pela tradição.
  • Autonomia - última etapa do desenvolvimento moral em que há a legitimação das regras, onde a criança passa a pensar a moral pela reciprocidade a partir do acordo mútuo.

De início, com a sequência das etapas do desenvolvimento moral na criança é nítido observar que esta é heterônoma e em seguida passa a autonomia, pois se sabe que no decorrer dos estágios, a criança apresenta o egocentrismo como fator predominante de tais fases passando assim a perceber espontaneamente a responsabilidade individual e coletiva que independa da autoridade de um adulto.

Piaget (1982, p.142) relata que "a própria moral pressupõe inteligência, haja vista que as relações entre moral x inteligência têm a mesma lógica atribuídas às relações inteligência x linguagem".

Dessa forma, afirmamos a grande importância da aquisição da linguagem para o desenvolvimento cognitivo nas relações interindividuais, e no trabalho em grupo onde a criança adquire conhecimento trocando experiências e fortalecendo suas opiniões ampliando assim ainda mais seus conceitos. La Taille, (1992, p.14) diz "uma das peculiaridades do modelo piagetiano consiste em que o papel das relações interindividuais no processo evolutivo do homem é focalizado sobre a perspectiva da ética".
 
O desenvolver da inteligência é necessário para que o indivíduo busque a cooperação diante das dificuldades que ele irá encontrar na trajetória das descobertas.

Uma das questões importantes para o desenvolvimento da criança é o afeto no meio familiar para que este desenvolvimento interior também seja satisfatório, pois a mora caminha junto a afetividade, e as crianças muitas vezes externam nas relações a forma de como elas são tratadas.

La Taille apud Wallon, 1992 "a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento".

4. O PAPEL DO PROFESSOR FRENTE AO DESENVOLVIMENTO MORAL DA CRIANÇA

A relação professor x aluno deve ser de total respeito para ambos, pois a criança deve ser considerada sujeito ativo na busca de conhecimentos e deve considerar o que o indivíduo já traz, com base no desenvolvimento espontâneo, ou seja, aquilo que é requerido pela criança ao trabalhar em alguma atividade desde que seja compatível a sua própria faixa etária.

Interagir entre os colegas com a intervenção do educador também é algo de grande valia, pois, torna o indivíduo capaz de refletir sobre as suas opiniões e reformulá-las se necessário. Torna-se notável assim, a importância do educador respeitar as fases da moral desde a anomia até que o indivíduo atinja a autonomia tentando desta forma, mostrar para a criança que a disciplina é algo que vai se construindo dentro de cada pessoa durante a formação do caráter de cada um, seja na escola ou perante a sociedade e, ainda no período das inúmeras descobertas.

Para Vygotsky (1992), "a construção do conhecimento se dará coletivamente, portanto sem ignorar a ação intrapsíquica do sujeito".

O docente deve estar atento a reação do aluno durante seu processo de conhecimento e estimulá-los a construir hipóteses, incentivá-los a refazer as atividades para então construir conhecimento.

A inteligência é adaptação que parte da assimilação pela compreensão do observar o meio e entender o objeto, também pela acomodação na interiorização da percepção do externo para o sujeito e pela modificação, onde o sujeito modifica o que internalizou quando necessário (PIAGET, 1982, p. 78).
 
É essencial, que durante os estágios do desenvolvimento haja a intervenção da família no meio e do educador na escola desde que o professor assuma o compromisso de facilitador dos processos cognitivos levando em consideração a capacidade de cada criança nos avanços de sua aprendizagem, aceitando o ponto de vista de cada indivíduo, deixando-os livres para refletir sobre o objeto de estudo. Portanto, cabe ao educador conduzir a criança no período de transição: anomia - heteronomia - autonomia, e compreender que há determinadas formas de lidar com diferentes situações de acordo com as faixas etárias encaminhando-as naturalmente para sua autonomia moral e intelectual.
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Como referenciar: "Disciplina e Indisciplina na Escola - Fundamentada nas Teorias Piagetianas" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 02/05/2024 às 10:03. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/disciplinaindisciplina/index.php?pagina=2