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O Ensino da Matemática nas Classes de Alfabetização: Como é? Como deveria ser? (página 6)

Quando os pequenos estão brincando ou jogando o erro é encarado de forma desculpabilizada. Se errarem durante uma rodada ou numa partida eles podem recuperar na outra. Para eles não é importante saber de imediato os procedimentos: o como jogar ou brincar, o essencial é estar interagindo com os demais. E é durante a interação que eles irão aprender as regras, as maneiras de como jogar ou brincar; um ajuda o outro, ora com exemplos ora com a fala. Essa ajuda pode lhe ser muito útil na aprendizagem, pois ele poderá realizar tarefas que sozinha não seria capaz de conseguir. Segundo os estudos de Vygotsky, o que a criança hoje realiza com ajuda (nível de desenvolvimento real), amanhã será capaz de realizar de modo independente (nível de desenvolvimento potencial). Entre esses níveis está a zona de desenvolvimento proximal, caracterizada pelas informações que a criança recebe, porém, ainda não estão amadurecidas ou totalmente assimiladas; e aqui está o papel da aprendizagem: através da interação com o meio e com os outros, a criança irá desenvolver a maturação, o que sozinha ela não conseguiria.

O desafio da descoberta leva a criança a refletir, a manipular, a agir, para solucionar uma situação-problema. O jogo lhe dá prazer, ela aprende brincando e satisfeita, ao contrário do aborrecimento causado por atividades rotineiras. Como no jogo a criança é livre pra crias, arriscar-se e errar sem censuras, sua autoconfiança se desenvolve mais facilmente. (DANTE, 1996, p. 37)

No uso das manifestações teatrais, elas também, expõem seu idealismo. Quando  representam os personagens das histórias, dos filmes ou as ações de pessoas com as quais convivem, as crianças manipulam os objetos envolvidos nas brincadeiras de forma simbólica. Elas imitam os heróis para poder exteriorizar seu lado bom, protetor; aquele em que todos podem confiar, pois elas são fortes, corajosas e podem resolver tudo. No uso dos vilões, dos personagens más, elas deixam transparentes suas posturas controladoras, destruidoras e outras expressões vividas por elas.

O principal indicador da brincadeira, entre crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. (RCNEI, 1998, Vol. I, p. 27)

Brincando se aprende. Quando o educador planeja; a brincadeira pode desenvolver várias habilidades da criança, principalmente quando ela está em pleno estágio de desenvolvimento.

Quando o professor está inserido na Educação Infantil - no estágio pré-operacional - é muito válido introduzir nas metodologias trabalhadas a utilização do jogo e da brincadeira que almejem uma finalidade educativa e progressiva para o desenvolvimento do aprendiz.

5. A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

A vida é feita de etapas e caso você pule alguma dessas etapas algo de, no mínimo, desconcertante, pode acontecer. Como será um jovem que não pôde vivenciar livremente sua infância, não pôde realizar suas brincadeiras, ser criança? E uma pessoa que não realizou sua adolescência com todas as aventuras que ela oferece, não se descobriu, não se olhou e sempre foi reprimida?

Na educação não é diferente. Suas etapas são de extrema importância. Cada uma serve de alicerce para a seguinte. É a construção gradual do conhecimento. A base, as paredes e o teto de uma casa, sem o firmamento, não suportará uma ventania, talvez nem seja possível finalizar a construção de suas paredes, pois elas estarão em cima do nada, se firmando em coisa alguma; sem elas não há como haver cobertura, cobrir a casa será uma tarefa impossível, pois não há onde o teto se firmar e ele é a proteção contra as chuvas que molham e estragam o que durante anos foi conseguido. Da mesma forma é a educação. Caso não se viva, todas as etapas, algumas complicações podem vir a se formar no seu desenvolvimento.

No Brasil as crianças ingressam no ensino fundamental sem nem uma necessidade de estudos anteriores. A idade é o referencial para sua promoção à primeira série da educação básica e é somente daí que se tem exigência para seu progresso. A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (Lei n° 9394/96) é clara ao dizer que "na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental" (LDB, 1996, Art. 31).

Quando a LDB não destaca a obrigatoriedade e a gratuidade da educação infantil na escola pública, ela deixa margem à várias interpretações sobre sua aplicabilidade. A criança só irá ter um convívio escolar e assim alfabetizador com sete anos de idade segundo a Lei, pois é sabido que no Brasil os governantes só "cumprem" o que estabelece a Lei, interpretada segundo suas conveniências. Assim deixam o ensino de crianças de 0 aos 6 anos de idade como um assistencialismo e é prova disso que essa etapa da educação básica é oferecida pelas secretarias de ação social e não pelas secretarias de educação, como deveria ser. Por mais que se tenha realizado discussões e reivindicações, a educação infantil não deixou seu caráter assistencialista lá na Primeira Guerra Mundial, apenas mudou sua cara, usa uma maquiagem diferente, entretanto a essência é a mesma - isso nas instituições públicas brasileiras que atendem esse perfil de clientela.

O próprio referencial para a educação infantil, lançado pelo MEC, já nos oferece sustentáculo sobre essa fase do ensino básico. Ele discorre sobre vários itens que envolvem a educação de crianças de 0 aos 6 anos de idade. O referencial é composto de três volumes: introdução, um referente à formação pessoal e social e o último sobre conhecimento de mundo. Sobre a criança ele diz: "A criança, como todo ser humano é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico [...]" (RCNEI, 1998, Vol. I, p. 21).

Em Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia, BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, deixam claro esse aspecto histórico-cultural desde cedo na criança:

A aprendizagem da criança inicia-se muito antes de sua entrada na escola, isto porque desde o primeiro dia de vida, ela já está exposta aos elementos da cultura e à presença do outro, que se torna o mediador entre ela e a cultura. A criança vai aprendendo a falar e a gesticular, a nomear objetos, a adquirir informações a respeito do mundo que a rodeia [...] (BOCK, 2000, p. 124).

É por isso que a educação infantil tem sim seu valor e sua necessidade de aplicabilidade, pois facilita e fortalece as relações do conhecimento, caso seja bem trabalhada e acompanhada pela família. É através dela que se iniciará sistematicamente a socialização, a interação e a formulação do conhecimento, pois a criança já traz consigo várias informações; ela não é uma folha em branco, como acreditam os seguidores da Gestalt.

"As crianças trabalham cognitivamente... desde muito cedo informações das mais variadas procedências" (FERREIRO, 2001, p. 99). É por isso que elas devem estar em contato com o mundo escolar, para através das informações prévias o educador poder facilitar seu desenvolvimento para o ingresso mais produtivo na primeira série do ensino fundamental.

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Como referenciar: "O Ensino da Matemática nas Classes de Alfabetização: Como é? Como deveria ser?" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 04/05/2024 às 22:34. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/matematicanaalfabetizacao/index.php?pagina=5