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O Ensino-Aprendizagem de Língua Inglesa em Escolas Públicas: o Real e o Ideal (página 3)

3. O PROFESSOR DE INGLÊS

No cotidiano profissional de hoje é comum a sensação de desilusão com "soluções dos teóricos" ante o pouco progresso visível da qualidade do ensino de línguas frente aos olhos e expectativas crescentes de alunos e autoridades.

Observa que para muitos professores de inglês, não existe a preocupação pela formação social do aluno. Nem sempre as discussões giram em torno das atitudes dos alunos no convívio social. Parece que a missão de educar se delega as disciplinas básicas no ensino regular e as famílias. Isso ocorre principalmente em escolas públicas onde, a relação ensino-aprendizagem do inglês e observado com preconceito, onde os professores em sua maioria consideram que os alunos são incapazes de aprender outro idioma, uma vez que, possuem dificuldade de aprender o próprio português.  

Agrega Piccoli (2006, p. 2):

Percebe-se que o professor de língua estrangeira mantém-se afastado do contexto educacional propriamente dito e preocupa-se apenas em transmitir os conteúdos linguísticos. Esses professores têm evitado considerar o ensino de língua estrangeira como parte relevante da educação integral do ser humano, desconhecendo muitas vezes as razões e os porquês do ensino de pelo menos uma língua estrangeira como aspecto fundamental na educação de sujeitos.

Vieira-Abrahão (1996) observa que a sala de aula, durante o ensino de inglês muitas vezes se transforma em um campo repleto de "conflitos e incertezas" por parte dos professores frente ao próprio trabalho.

Esses conflitos e incertezas, quando relacionadas ao fato do professor não ser nativo da língua inglesa, se dão pela falta de domínio suficiente do conteúdo. Segundo Kelly (2000) muitos professores relatam que a falta de tempo para sua própria aprendizagem e domínio total do idioma, dificulta muito a relação de ensino na sala de aula. Ainda tem aqueles que possuem dificuldades na pronúncia, e ainda citam a falta de apoio pedagógico por parte da instituição. Claro que para um brasileiro, a diferença entre os dois idiomas é algo que realmente complica.

No entanto, esses problemas não podem se converter em barreiras que impeçam a reflexão sobre a prática didático-pedagógica no objeto em questão. Buscando a ajuda de Freire e Shor (1993, p. 48) pode-se dizer que o professor independente da disciplina que lhe seja conferido, deve ser acima de tudo um educador libertador,

[...] atento para o fato de que a transformação não é só uma questão de métodos e técnicas. Se a  educação libertadora fosse somente uma questão de métodos, então o problema seria algumas metodologias tradicionais por outras mais modernas, mas não é esse o problema. A questão é o estabelecimento de uma relação diferente com o conhecimento e com a sociedade. [...].

Com contexto da prática pedagógica do inglês, ilustra Deo e Duarte (2004) que o professor deve estar consciente para a necessidade de incluir em sua rotina diária alguns momentos de reflexão e questionamento sobre as ações que circulam no cenário do idioma. O professor não deve ser um mero transmissor de conteúdo mais sim um profissional que envolve; expressa e constrói apreciações.   

Talvez fosse isso que pensaria a Vygotsky (1998) frente às dificuldades do professores. Que eles deveriam buscar novos meios para estimular o trabalho colaborativo, potencializando o desenvolvimento cognitivo dos alunos.

Para tanto o ideal para o ensino, seria a organização do ambiente que é a base para que o aprendiz se sinta estimulado à aprendizagem. O inglês como um rico idioma, que transita em vários mundos, requer do professor um trabalho de mediador, onde possa levar o aluno ao mundo da descoberta, da motivação, do querer entender e buscar, onde o mesmo possa ser a peça-chave de seu desenvolvimento.

Considera Piccoli (2006, p. 5) que o ensino do inglês implica por parte do professor um compromisso de oportunidades para si e para seus alunos, isto é, de um acordo para a construção de análises e síntese visando um viver e agir em sociedade, "[...] trabalhando partes e vislumbrando o todo complexo".

Almeida Filho (1998) um grande investigador da Linguística Aplicada, considera que o ensino comunicativo é aquele que busca organizar experiências de aprender por meio de atividades de real interesse e/ou necessidade do aluno, com o escopo de que este seja capaz de usar a língua-alvo para realizar atos verdadeiros na interação com outros sujeitos que também fazem uso dessa língua.

Seguindo nessa trajetória de pensamento, Piccoli (2006, p. 5) disserta:

É necessário que o professor tenha em mente que permitir a si e a seus alunos a (des) construção, reconstrução e reformulação de conteúdos é passar de respondedor a questionador, é manter-se reflexivo, questionando sempre o porquê e o para quê, pois o saber construído sobre a relevância e aplicabilidade dos conteúdos e na confiança e poder que o educador outorga aos educandos constitui-se também objeto de transformação social. 

Com isso, é possível dizer que na prática da língua inglesa, muitas vezes, se faz necessário que o professor deixe sua "mesa" para ir ao encontro de seus alunos, onde o "saber" implica em aprender a compartir representações e estímulos.

Como diria Freire (2003, p. 47) "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou sua construção".

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Como referenciar: "O Ensino-Aprendizagem de Língua Inglesa em Escolas Públicas: o Real e o Ideal" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 02/05/2024 às 04:28. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/o_ensino_aprendizagem/index.php?pagina=2