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Significar a Educação: Da Teoria à Sala de Aula (página 7)


O desafio consiste em desenvolver práticas pedagógicas em que a natureza humana seja respeitada. Isso exige do professor compreender como o ser humano aprende, como se motiva, como é possível provocar o desejo de crianças, adolescentes, jovens, ... para que o ensino e a aprendizagem sejam significativas. Precisa o professor, para tanto, conhecer as teorias que refletem sobre o ser humano. Significa, por exemplo, conhecer a teoria de Piaget, Vygotski, Meirieu, Freire, entre outros.

Voltemos ao processo. Novamente em Meirieu encontramos reflexões para orientar o caminho metodológico, a partir da necessidade de significar o conteúdo para os alunos. O autor busca na natureza humana o desejo de lidar com enigmas, com situações-problema, na busca de um sentido para a construção da identidade da pessoa:   

...a pedagogia das situações-problema parece-nos responder, ainda que modestamente, aos três desafios que constituem o ofício de ensinar: com efeito, tem, em primeiro lugar, uma "função erótica" pelo fato de tentar suscitar o enigma que gera o desejo de saber; tem, em seguida, uma "função didática" pelo fato de preocupar-se em permitir sua apropriação; tem, enfim, uma "função emancipadora", pelo fato de permitir que cada pessoa elabore progressivamente seus procedimentos eficazes de resolução de problema. Três boas razões, ao nosso ver, para empenhar-se em sua aplicação. (1998: 181)

Abordam-se, assim, alguns dos pressupostos que provocam na pessoa a vontade de buscar: o desejo (o autor chama de função erótica); a maneira como o novo é absorvido pela pessoa (função didática) e a necessidade do ser humano de constituir sua identidade e sua liberdade. Ser, enfim, uma pessoa capaz de compreender por que as coisas são como são (função emancipadora) e não apenas servir de objeto de manobra, decorando e repetindo coisas que não têm o menor sentido, ou apenas servem para uma limitada sobrevivência econômica. Ainda, segundo Gadamer, citado por Marques, "a compreensão começa onde algo nos interpela" (1993:69).

Aqui se situam inúmeros problemas para a educação, em especial, para o professor. A falta de significado dos conteúdos, para o próprio professor, pois o mesmo tem quase total desconhecimento da história, do contexto, das situações e dos problemas que originaram esse conteúdo. Além disso, a formação e a cultura dos professores, em todos os níveis, está muito distante daquilo que propõem as teorias.

Vamos recorrer a um outro autor, Perrenoud. Esse apresenta a necessidade de formarmos pessoas competentes, que saibam resolver situações complexas e, ao mesmo tempo, está consciente e demonstra a sua preocupação com o tipo de práticas desenvolvidas pelos professores:

Os professores acostumados a uma abordagem disciplinar não imaginam, realmente, a possibilidade de "transmitir sua matéria a propósito de um problema", quando toda a tradição pedagógica leva-os a autonomizar a exposição dos conhecimentos e a conceber as situações de implementação como simples exercícios de compreensão ou de memorização. (1999, 54)

Não queremos aqui, de forma alguma, dar a culpa ao professor, pois não estamos procurando culpados e, se assim o fizéssemos, teríamos que, também, enfronhar-nos na história, analisar as questões políticas, culturais, ideológicas que geraram essa realidade. Estamos, isso sim, buscando caminhos que possam auxiliar na aproximação entre a teoria e a prática, e possibilitar  aos colegas a qualificação do seu fazer e, por que não dizer, encontrar mais significado e satisfação nesse fazer.

Partimos, do pressuposto de que para haver desejo de aprender e para que o ensino seja significativo é preciso que o aluno seja instigado, a partir de situações e problemas que são significativos em seu contexto. O conteúdo, por sua vez, como um saber acima do senso comum, torna-se a referência para a compreensão das situações e/ou a solução dos problemas. Desta forma, acreditamos que o aluno consiga visualizar o significado do conteúdo e compreender por que está aprendendo o mesmo, como sugere Meirieu: "O que se impõe é que se tenha a certeza de um problema a ser resolvido e, ao mesmo tempo, da impossibilidade de resolver o problema sem aprender." (1998:172). Isso clareado e aceito, não é demasiado voltarmos a insistir na necessidade de rever as práticas que formam os professores.

No contexto destas reflexões, entendemos encontramos um caminho significativo para a educação, caminho que pode oferecer aos professores uma importante orientação metodológica, baseada nos pressupostos que devemos desenvolver pessoas competentes, com a mente em constantes exercícios complexos, de que a pesquisa deve estar presente no cotidiano da sala de aula, e de que o professor precisa provocar, instigar os alunos na busca de respostas  para os porquês, em um movimento sistêmico contínuo. É isso também que sugere Berbel:

A partir de um problema, busca-se compreendê-lo, fundamentá-lo, buscam-se dados para isso, que são analisados e discutidos;  por último, são elaboradas hipóteses de solução, que devem ser colocadas em prática para serem comprovadas e validadas  (1998: 32)

  Tal conjunto de referenciais levou os professores a uma proposta metodológica que nos tem sensibilizado muito nos últimos anos. Trata-se do Arco de Maguerez, já citado por Bordenave e Pereira, Berbel e por nós mesmos (Hengemühle, 2004:103).

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Como referenciar: "Significar a Educação: Da Teoria à Sala de Aula" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2025. Consultado em 17/10/2025 às 22:04. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/significar/?pagina=6